O Frufru Feminino num Romance de Encanto

Os cliches romanescos se acavalam em Mulherzinhas

29/09/2022 21:39 Por Eron Duarte Fagundes
O Frufru Feminino num Romance de Encanto

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Mulherzinhas (Little women; 1868), clássico semi-adolescente da literatura norte-americana escrito por Louisa May Alcott, tem muitas ingenuidades temáticas e narrativas e aspectos provincianos novecentistas —o século XIX como uma eterna província em que o frufru das mulheres (naquela época) são mais ruídos que vozes. Jane Austen, na Inglaterra, fazia algo parecido: uma espécie de redução da mente feminina que, todavia, em determinado momento explode. Em Austen as coisas transcendem. Em Alcott não chegam a tanto: mas permitem a degustação pelo leitor.

Os diálogos são abundantes em Mulherzinhas. Desde o resmungo de Jo sobre o Natal e a necessidade dos presentes, no primeiro movimento do romance, até a exclamação final da mãe das garotas para suas filhas que fizeram o frufru de seu sexo ao longo do livro, uma exclamação de felicidade incauta e fácil. Os clichês romanescos se acavalam em Mulherzinhas; mas tudo contribui para um conjunto ficcional que amiúde seduz.

Talvez o principal duelo psicológico na narrativa seja aquele que se trava entre Amy, candidata a pintora, e Jo, pretendida escritora. No capítulo sete, Jo zomba do lapso linguístico de Amy, que usa o termo ciclope para dizer centauro, ao tentar um elogio a Laurie que se pusera a cavalgar. Laurie é, por várias páginas, amicíssimo de Jo, e há um flerte oculto e secreto ali, mas Jo o rejeita quando ele se declara. Passado algum tempo, Jo tendo-se afastado, Laurie vem a casar-se com Amy. O duelo sentimental se instala, caracterizando com precisão as distâncias psíquicas entre criaturas tão próximas.

Charles Dickens é também uma referência para a literatura muito feminina de Alcott. Em determinado instante as figuras parabólicas do inglês Dickens são recapturadas pela escritora americana. Circulando com desenvoltura pelas tramas de seu tempo, encadeando com  muita perícia as situações fragmentárias, o romance de Alcott sobrevive bem à passagem dos séculos, podendo comunicar-se inteiramente com as jovens de hoje.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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