Marguerite e Julien: Um Amor Proibido
Fran?a, virada do seculo XVI para o XVII. Os irmaos Marguerite (Ana?s Demoustier) e Julien de Ravalet (J?r?mie Elka?m) cresceram juntos com uma grande afinidade. Na adolescencia apaixonam-se perdidamente e iniciam um relacionamento que escandaliza a aristocracia da epoca. Sob pressao, os dois fogem para viverem juntos, por?m s?o perseguidos pela familia com ajuda da policia.
Marguerite & Julien: Um amor proibido (Marguerite et Julien). França, 2015, 103 minutos. Colorido. Dirigido por Valérie Donzelli. Distribuição: Mares Filmes
Empregando uma câmera distanciada e um ritmo lento, a cineasta Valérie Donzelli, de “A guerra está declarada” (2011), recriou um fato verídico com desfecho trágico sobre um caso de incesto que abalou a França no século XVI, envolvendo dois irmãos nascidos em uma família aristocrata. Eles são Marguerite e Julien de Ravalet, uma espécie de “Romeu e Julieta”. Quando crianças, já tinham uma relação próxima, prometeram um ao outro amor eterno. Passados os anos, na juventude, isto se transformou em uma paixão proibida. Mantiveram por várias ocasiões encontros amorosos às escondidas, desafiando principalmente Marguerite, que iria se casar; quando flagrados, fugiram para viverem juntos. E daí são alvo da polícia, de um padre moralista que os acusam de um crime irremediável e por fim da família desesperada. O romance do casal de irmãos terminou de forma brutal, com violência, e o desfecho não nos poupa de nada – é cru e direto, causando um nó na garganta.
O filme tem uma história dentro de outra (abre com uma moça contando à a trajetória dos jovens Ravalet para crianças antes de dormirem), tem liberdade para misturar épocas, dialoga o velho com o novo (a ambientação é entre 1590 e 1603, mas vemos em cena telefone celular, roupas atuais etc), e a montagem é altamente veloz.
A ideia veio de um argumento de Jean Gruault, o roteirista de “Jules e Jim” (1962) e “O garoto selvagem” (1970), que François Truffaut iria filmar quarenta anos atrás, mas não aconteceu (imaginem como teria ficado essa baita história pelas mãos de um dos arquitetos da Nouvelle Vague?). Então a diretora francesa Valérie Donzelli, com ajuda do ator de seus filmes Jérémie Elkaïm (que interpreta aqui o Julien), fizeram a adaptação, que mantem aspectos fieis do original; o resultado é uma obra controversa, desafiadora, um exemplar cult para público específico.
Indicado à Palma de Ouro e ao Queer Palm em Cannes em 2015, foi vaiado no festival e dividiu a opinião dos críticos – maltratado pela imprensa estrangeira, o drama teve pouca adesão do público, aqui no Brasil passou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2016, entrando em seguida em cartaz por duas semanas nas capitais, porém em muitos países importantes sequer esteve em circuito. Uma pena, pois é um trabalho bem finalizado e original, com um tema tabu que nos permite uma série de reflexões. Disponível em DVD pela Mares Filmes e em plataformas digitais.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com