Entre Facas e Segredos
O filme esta merecidamente ganhando seu valor conquistando 3 indicacoes aos Globo de Ouro 2020
Um dos gêneros literários mais populares é o romance policial, nascido em fins do século XIX com Edgar Allan Poe, requintado pela narrativa Sherlockiana e, em paralelo, chegando à rainha do crime, alcunha de Dame Agatha Christie (1980 - 1976), uma das autoras mais lidas no mundo, adaptadas várias vezes para outras mídias e que conquistou a admiração do roteirista e diretor Rhian Johnson.
Já houve vários títulos que prestaram devida e merecida homenagem ao “whodunit”, narrativa de mistério centrada em um detetive que investiga uma lista de suspeitos de um crime intricado. Lembro de “Assassinato por Morte” (1976), “Os Sete Suspeitos” (1985) e da franquia “A Pantera Cor-de-Rosa” (1964/2006) que brincam com a figura do investigador genial capaz de enxergar entre fumaças e espelhos de uma investigação, em um jogo de gato e rato nada elementar. Johnson presta tributo ao gênero reunindo um elenco all-star com Daniel Craig à frente deste como o famoso Benoit Blanc, um amálgama cinematográfico das personas de Hercule Poirot e Columbo com olhar clínico para entrevistar os membros da família de Harlan Thombley (Christopher Plummer), um escritor de mistérios milionário que é encontrado com a garganta cortada em seu estúdio.
O filme é entrecortado por vários depoimentos e flashbacks de uma família moralmente disfuncional onde a mentira e a dissimulação é regra vital para garantir interesses financeiros. Plummer, o Capitão Von Trapp do clássico “A Noviça Rebelde”, aparece pouco mas ganha a atenção sua cumplicidade e amizade com a enfermeira Martha Cabrera (Ana de Armas). Esta faz um papel chave, mas o roteiro é tão bem escrito que as cenas são bem distribuídas para que Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Tony Collete e Chris Evans tenham passagens muito bem inseridas no mistério que se desenrola em três atos. Primeiro o crime cometido e os interrogatórios de Benoit Blanc seguem a estrutura de histórias como “Assassinato no Expresso do Oriente” e “Morte no Nilo” até a primeira hora quando Johnson subverte a estrutura narrativa e revela o assassino. A partir daí o filme mistura o suspense hitchcockiano com o clima da tele série “Columbo”, onde o criminoso, revelado somente aos olhos do público, procura apagar seu rastro, sendo implacavelmente perseguido pelo detetive. A medida que essa segunda parte se desenrola, temos uma mudança brusca de rumo quando Rhan Johnson retoma o clima das novelas de Agatha Christie em um criativo plot-twist que exalta a capacidade do cinema de ainda ser criativo não por romper com os clichês, mas por justamente não negá-los, brincando com estes. Assim, Johnson conseguiu resultado superior ao seu trabalho atrás das câmeras em “Star Wars: O Ultimo Jedi” (2017), que dividiu opiniões.
O filme está merecidamente ganhando seu valor conquistando 3 indicações aos Globo de Ouro 2020, 3 indicações ao Critics Choice Award, além de outras honrarias. Dificil é imaginar quando poderíamos reencontrar Benoit Blanc já que uma segunda aventura seria bastante pertinente, bem vinda, e a prova que na literatura e no cinema o crime não apenas compensa, como diverte.
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Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com