NA HBO: Quem e' Perry Mason?
Historias de detetives sempre tiveram um publico cativo que adora acompanhar investigacoes de crimes, o que a TV e o cinema sempre souberam explorar
Histórias de detetives sempre tiveram um público cativo que adora acompanhar investigações de crimes, o que a tv e o cinema sempre souberam explorar. Vindos da literatura como Sherlock Holmes ou criados diretamente para a dimensão midiática como “True Detective”, esses peritos da criminalística fascinam pela habilidade dedutiva, capacidade observadora e um faro apurado para separar verdades de mentiras. A mais nova produção do gênero chegou há pouco mais de um mês na HBO com a missão de fazer jus a essa tradição da teledramaturgia e trazendo de volta um nome de peso. Estou me referindo a “Perry Mason”, que já conta com 8 episódios produzidos e a anunciada renovação para uma segunda temporada.
Quando criança a Rede Record exibiu a série original “Perry Mason” mostrando a cada episódio um advogado criminalista, que não satisfeito em defender seus clientes, atua como detetive e; geralmente, quando tudo indicava que perderia a causa, conseguia virar o jogo em pleno julgamento pelas evidências que chegavam ao seu conhecimento. Mason não agia sozinho, mas contava com sua bela secretária Della Street e o investigador Paul Drake. A premissa vinha de uma série de livros escrita por Earl Stanley Gardner (1889 – 1970), sendo ele próprio um advogado na vida real, começando com “The Case of the Velvet Claws”, originalmente publicado em 1933. O sucesso do personagem levou a um programa de rádio que durou 12 anos pela CBS até que a Tv continuasse com a série homônima que foi transmitida de 1957 até 1966 imortalizando sua figura no imaginário popular na persona do ator Raymond Burr (1917-1993).
Dizia-se que “Perry Mason nunca perdia um caso” e seus clientes se encontravam enrolados em uma cadeia de evidências circunstanciais que os levavam à acusação de assassinato. Alguns deles até mesmo acreditavam ter cometido o crime e os roteiristas conseguiam manipular bem as expectativas a medida que conduziam ao desfecho da trama. O personagem chegou a ser adaptado para uma série de quadrinhos pela Dell Comics ainda na década de 60. Com reprises sucessivas na segunda metade da década de 60 e na década de 70, Mason foi incorporado à cultura pop e ganhou um remake pela mesma CBS com Monte Markham no papel principal. “The New Perry Mason”, no entanto, não fez sucesso e ficou apenas 5 meses no ar, entre o final de 1973 e janeiro de 1974. Raymond Burr reviveu o personagem em uma série de filmes originais para a TV americana começando com “A Volta de Perry Mason” (Perry Mason Returns) de 1988.
Aqueles que ainda lembrarem da antiga série certamente acharão estranho a nova versão já que os roteiristas Rollin Jones e Ron Fitzgerald tomaram como fonte os livros de Gardner, e não a série da CBS. O tom das histórias também é bastante diferente por fazer de Mason um personagem mais complexo, carregando o estresse pós primeira guerra e a atmosfera da grande Depressão. Mérito dos produtores, deve-se ressaltar, a apurada reconstituição da Los Angeles de 1932 e a atuação do britânico Mathew Rhys (The Americans) compondo um tipo que não apenas busca a diferença entre inocência e culpa, mas se mostra ambíguo entre o que é moral e o que é legal. Nesse sentido, a série da HBO assume uma atmosfera noir nos moldes da literatura de mestres como Raymond Chandler e Dashiel Hammet. O episódio inicial, em torno do sequestro de um bebê, indica que uma investigação destituída de glamour, mais seca, crua, violenta e sombria na abordagem da natureza humana, completamente diferente do antigo seriado de Tv.
Mason precisa sujar as mãos em seus casos, e a sujeira remonta a decadência dos valores de uma sociedade em transformação, o que o leva a se guiar pelos próprios instintos. O elenco também inclui Lili Taylor (Invocação do Mal) e John Lightgow (Pai em Dose Dupla 2) entre outros, em uma produção esmerada feita pela Team Downey, do ator Robert Downey Jr, que chegou a cogitar interpretar o papel título. Sem dúvida que vale a pena conhecer a série da HBO, e talvez assim constatar que se o crime não compensa, na páginas e nas telas ele diverte.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com