Reencontro Prazeroso

Eron Fagundes se reencontra com o filme A Mulher Que Chora, de Jacques Doillon

14/04/2014 13:21 Por Eron Fagundes
Reencontro Prazeroso

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Passados trinta anos de minha primeira visão do filme (tratava-se , em 1981, duma mostra francesa no auditório do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, cuja programação de cinema era então coordenada por Romeu Grimaldi), o reencontro com A mulher que chora (La femme qui pleure; 1975), feito pelo francês Jacques Doillon, é dado com prazer. Doillon nunca foi benquisto pelo circuito comercial brasileiro (talvez somente O jovem assassino, 1991, e Ponette, 1995, sua obra-prima, tenham chegado às salas normais de exibição), mas seu cinema despojado, natural, absolutamente sem artifícios, ali entre a natureza espiritual de Robert Bresson e a “encenação brilhantemente intelectual” de Eric Rohmer, muito marcou minha maneira de ver filmes na década de 80 do século passado. A revisão de uma obra assim, cuja importância na formação cinematográfica foi inevitável, é sempre um ato perigoso; e rever A mulher que chora não deixa de sofrer as agruras deste processo do tempo, esmaecendo bastante aquela experiência impagável de agosto de 1981 quando as personagens quase documentais de Doillon me impressionaram. Mesmo assim, com a redução oferecida pelos decênios, A mulher que chora permanece como um dos belos filmes franceses daqueles anos em que ainda François Truffaut e Alain Resnais brilhavam nos circuitos comerciais.

O processo estético de A mulher que chora é estabelecer uma ponte direta entre a vida e o filme. Jacques Doillon talvez interprete um pouco a si mesmo ao recriar em sua própria pele uma criatura chamada Jacques, um homem em torno dos trinta e pouco anos às voltas com a separação de sua mulher Dominique (vivida por Dominique Laffin; a mulher chorona do título) e as relações com sua nova amante, Haydée (a intérprete é Haydée Politoff), tudo acrescido da existência duma filha como Dominique, Lola (quem está diante das câmaras como a garotinha é a própria filha do cineasta, Lola Doillon, então com três anos de idade). Na primeira imagem do filme a mulher que chora está lamuriando-se sentada no chão, num canto da casa; chega Jacques, de carro, que grita seu nome (“Dominique!”), assim como Jerôme, no começo de O joelho de Claire (1970), exclama “Aurora!” ao chegar a Anecy e dar com sua amiga escritora.

No fim, instado por sua esposa para abandonar a amante, Jacques é também abandonado pela esta esposa. Acaba ficando sem nenhuma, diante das confusões sentimentais. Como diz o ditado moral de As noites de lua cheia (1984), “quem tem duas casas, não tem nenhuma”. A mulher que chora, para além de seus benfazejos ares cinematográficos, pode ser espiado um pouco como um retrato de Doillon num determinado momento de sua vida.

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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