A Crônica de um Bordel

Menina bonita (Pretty baby; 1978), o primeiro trabalho que o cineasta francês Louis Malle fez nos Estados Unidos, mereceria um reencontro, nos cinemas, com estes tempos de moralismo obscuro

08/02/2019 22:01 Por Eron Duarte Fagundes
A Crônica de um Bordel

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Menina bonita (Pretty baby; 1978), o primeiro trabalho que o cineasta francês Louis Malle fez nos Estados Unidos, mereceria um reencontro, nos cinemas, com estes tempos de moralismo obscuro. Esta realização, que é uma das obras-primas do homem que escandalizou o mundo cinematográfico ao tratar do adultério em Os amantes (1958) e filmar com absoluto esplendor o incesto mãe-filho em O sopro no coração (1971), mantém seu fascínio original do fim dos anos 70 ao voltar-se para um assunto tão espinhoso quanto a prostituição infantil e lançar um olhar ao mesmo tempo rigoroso e de superior beleza sobre a trajetória perturbada e perturbadora da menina de 12 anos, filha de uma prostituta, criada num bordel e que se apaixona pelo fotógrafo oficial do bordel. O filme de Malle tem sensibilidade e grandeza cinematográfica à altura para encarar a hipocrisia moral do século XXI.

A grande lucidez de Malle faz uma crônica precisa e esteticamente emocionante dum bordel da Nova Orleans da primeira metade do século. Brooke Shields está maravilhosa como a prostituta-mirim; e Susan Sarandon, como sua mãe, que depois seria reaproveitada por Malle em outro belo filme, Atlantic city (1980), e Keith Carradine, como o estranho e sinuosamente moral fotógrafo, completam a afinação do elenco que Malle dirige com sua habitual inventividade.

A bela sequência da virgem conduzida numa espécie de veículo aéreo em que as rodas são os carregadores (a virgem está na imagem à maneira de uma deusa antiga) para que sua noite de defloramento seja leiloada é um dos pontos altos de todo o cinema de Malle, dotada duma agudez estética tão apaixonante quanto a da complexa cena do incesto em O sopro no coração. Como em todas as suas abordagens de temas escabrosos, em Menina bonita Malle impede o filme de cair na vulgaridade a que o olhar moral do espectador  não vai lograr reduzi-lo.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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