Concisao e Agudeza em Alfredo Bosi
Historia Concisa da Literatura Brasileira eh uma aula de concisao mas tambem de agudeza
Uma visita (ou revisita) às páginas de História concisa da literatura brasileira (1970), de Alfredo Bosi, permite ver com a abrangência e a profundidade de sua visão das coisas da literatura brasileira. O aparente jornal literário de Bosi adquire, aos poucos, as características de ensaio, de estudo aprofundado da realidade de nossas letras. Seu ponto de partida: “O problema das origens de nossa literatura não pode formular-se em termos de Europa, onde foi a maturação das grandes nações modernas que condicionou toda a história cultural, mas nos mesmos termos das outras literaturas americanas, isto é, a partir da afirmação de um processo colonial de vida e de pensamento.”
Sabe enxergar os extratos da literatura brasileira, decodificando Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar, Machado de Assis. “A ficção machadiana constitui, pelo equilíbrio formal que atingiu, um dos caminhos permanentes da prosa brasileira na direção da profundidade e da universalidade. Mas não deve ser transformado em ídolo; isso não conviria a um autor que faz da literatura uma recusa assídua de todos os mitos.” Logra distinguir, na aparência dos motivos, a ingenuidade primitiva de um Casimiro de Abreu da complexidade poética de Gonçalves Dias. Escrevendo desde São Paulo, consegue vislumbrar o ficcionista de ímpeto no campeiro Simões Lopes: “ Simões Lopes é o caso de uma tradição ou cultura que se encarna em uma sensibilidade riquíssima sem perder nem desfigurar (ao contrário, sublinhando) seus traços específicos. É o exemplo mais feliz da prosa regionalista no Brasil antes do Modernismo.” Seu olhar para a província chega-se ao delirante dramaturgo dos pampas: “O dado biográfico tem também seu poder de ressonância: a marginalização do homem interdito na provinciana Porto Alegre do fim do século XIX empresta-lhe uma aura extremamente simpática em termos de contracultura.” (Está aludindo a Qorpo Santo). Debruça-se em José Geraldo Vieira: “Mas o seu refinamento vai mais fundo e chega mais longe enquanto molda criaturas extremamente instáveis e nervosas, incapazes de situar e de resolver os seus conflitos fora dos quadros culturais da literatura e da arte, sua segunda e definitiva natureza.”
O livro de Bosi foi publicado originalmente em 1970, mas as edições posteriores acresceram textos sobre trabalhos publicados ao longo da década de 70. Dedicado a Otto Maria Carpeaux, um dos gigantes do pensamento literário no país, História concisa da literatura brasileira é uma aula de concisão mas também de agudeza.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br