Cony, um Escritor

Os dons narrativos do escritor carioca Carlos Heitor Cony sao evidentes

04/06/2023 03:11 Por Eron Duarte Fagundes
Cony, um Escritor

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Os dons narrativos do escritor carioca Carlos Heitor Cony são evidentes. Também é evidente que o melhor de sua literatura de ficção está no passado, pois alguns de seus romances recentes são repetitivos e amorfos. É bom que sua editora tenha reeditado muitos de seus primeiros livros, a maioria esquecidos e que em anos atuais topam nos novos leitores uma possível continuidade e modernidade; ainda que discreta.

Balé branco (1965) começa assim como quem não quer nada, acumulando frases e observações comuns que deixam perplexo o leitor ao debruçar-se sobre uma excessiva trivialidade. Mas Cony é assim: transforma o banal, dá-lhe status literário, organiza uma trama reflexiva e cuja densidade psicológica nasce imperceptivelmente de elementos quase nus de linguagem.

Em Balé branco se misturam uma trama policial e um drama existencialista como era hábito do Cony da década de 60. Algo que se perdeu um pouco (não inteiramente) no lapso de vinte anos que separam Pilatos (1975) de Quase memória (1995), dois bons romances que marcam o interregno em que o autor deixou de publicar suas narrativas de ficção

Um empurrão durante uma apresentação de balé, um crime ocorrido nas dependências do teatro, uma teia de politicagem e intrigas pessoais — eis o panorama onde se desenvolve Balé branco, demonstrativo da capacidade de Cony de revelar ao menos a superfície da alma feminina, aquelas meninas que fazem da dança motivos diversos de suas existências. Ao longo de Balé branco, ouvimos tagarelar e murmúrios interiores, no tom de música de câmara (andante constante) que Cony, herdeiro de Lima Barreto e Machado de Assis, exercita em seus livros.

Um belo texto, uma bela história, um belo exercício: eis Balé branco, tudo coordenado pela mão de maestro de Carlos Heitor Cony.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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