RESENHA CRTICA: Amar, Beber e Cantar (Aimer, Boire et Chanter)
Um filme encantador, romntico, bonito
Amar, Beber e Cantar (Aimer, Boire et Chanter)
França, 14. 108 min. Direção de Alain Resnais. Baseado em peça de Alan Ayckburn, adaptada por Laurent Herbiet, Resnais (usando o pseudônimo de Reval) e Jean Marie Besset (diálogos). Com Sabine Azéma, Hippolyte Girardot, Caroline Sihol, André Dussolier, Sandrine Kiberlain, Michel Vuillermoz.
Na última festa do Oscar®, na homenagem aos falecidos tive a chance de acrescentar ao vivo a informação da morte no dia anterior, do grande diretor francês, o genial Alain Resnais (1922-2014) não muito tempo depois de ter ganhado o Prêmio Alfred Bauer no Festival de Berlim e também o da Critica Internacional. Mais acessível e agradável do que o anterior (Vocês Ainda Não Viram Nada, 12) conservou sua mesma obsessão pelo teatro, pelos ambientes restritos e fechados e pela fascinação com a profissão do palco, particularmente do ator e do ensaiador. Ainda que por uma razão muito prática também lhe ajudasse na realização do projeto, já que muito doente, praticamente sem visão só conseguia dirigir em ambientes fechados, com a ajuda de sua fiel equipe (que já entendia tudo o que ele iria pedir) e os atores amigos, liderados pela mulher de muitos anos e muitos filmes, a ótima Sabine Azema.
Que bom que esta despedida seja um filme encantador, romântico, bonito, ainda que mais indicado para pessoas mais maduras e habituadas aos exercícios teatrais do diretor Ayckbourn (pouco conhecido por aqui), foi adaptado antes por Resnais em Smoking/No Smoking, 93, Medos Privados em Lugares Públicos (06) que ficou mais de ano em cartaz em São Paulo. É muito comum na sua inusitada dramaturgia acontecer como aqui quando um personagem fundamental de quem se fala desde o começo nunca seja visto em cena. E ainda uma outra também aparentemente protagonista, a filha, mal é vista ao final.
A gente que sempre tem a impressão de já ter visto coisas semelhantes em peças teatrais admira e se diverte com o talento de Ayckburn que aqui é acentuado com a criatividade da cenografia. Embora se chegue a uma mansão inglesa do interior logo é coberta de panos coloridos e variados, que serão o cenário justamente da peça que será feita ali (aliás outra surpresa, não vemos nada dessa peça! Só o que se comenta dela!).
Por outro lado as conversas e troca de ideias entre os atores são sempre engraçadas e ditas por experts (para mim foi uma surpresa encontrar Caroline Shiol, já veterana mas de quem não memorizei a presença. Mas é uma perfeição na sua criação da atriz dona da casa).
Não dei um resumo porque basicamente gira em torno de trivialidades da vida dos casais, dos ausentes e da montagem de uma peça. Não importa muito, como não importa noventa e nove por cento do que fazemos e dizemos. Mas nem por isso o deixamos de dizer e fazer.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.