RESENHA CRTICA: Fio de Ariane, O (Au Fil DAriane)
Indicado apenas ao pblico feminino com mais de quarenta
O Fio de Ariane (Au Fil D´Ariane)
França, 14. 92 min. Direção de Robert Guédiguian. Com Ariane Ascaride, Jacques Boudet, Jean Pierre Darrousin, Anais Demoustier, Adrien Jolivet, Gérard Meylan, voz de Judith Magre.
Fui a primeira pessoa/equipe a entrevistar o diretor Guédiguian em Cannes, logo depois do sucesso de seu filme Marius e Jeanette, 97. Até então já era veterano, mas seus trabalhos ficavam restritos a sua cidade natal, Marselha. Desde então não parou de trabalhar e vários de seus atores (troupe) entraram para o cinema parisiense. Acontece que Jean Thomas, dono da distribuidora Imovision também é de Marselha (cidade portuária no sul da França) e ficaram amigos, o que explica porque seus filmes passam aqui regularmente (ainda que uns sejam melhores que outros).
Desta vez Robert quis dar um presente para sua musa e esposa Ariane Ascarid,e fazendo uma comédia quase romântica, apesar dela já ter certa idade (é de 1954 mas até aparenta mais, embora seja realmente boa atriz). Sua ideia foi fazer uma referência mitológica (grega) de Ariane (ela era filha de Minos, o Rei de Creta, apaixonada por Teseu, e que lhe deu um fio (mágico), ou seja, novelo de linha, que o ajudaria a não se perder no labirinto onde ele enfrentaria o Minotauro. Até hoje, me ajuda o Google, o fio de Ariane é constantemente citado nos âmbitos da filosofia, da ciência, dos mitos e da espiritualidade, entre outras esferas que reivindicam seu significado metafórico. Vinculado ao símbolo do labirinto, ele é constantemente visto como a imagem com a qual se tece a teia que guia o Homem na sua jornada interior e o ajuda a se desenredar do caminho labiríntico que percorre em sua busca do autoconhecimento.
A relação com a história do filme é no entanto bem vaga a não ser no fato de que a atriz e o personagem se chamam Ariane. Feita com muitas canções do Francês Jean Ferrat (1930-2010) e muitos trechos de Ópera, é sobre essa mulher solitária que organiza sua festa de aniversario mas acaba sozinha porque os amigos não aparecem. Aborrecida ela sai de casa sem destino até que um motoqueiro a chama para ir ao litoral num restaurante frequentado por idosos e aonde ela faz novos amigos e recomeça um novo estilo de vida.
Só isso. O elenco de apoio é tão simpático quanto a narrativa (embora seja apelar para a fantasia escolher um cágado que conversa com a heroína lhe dando conselhos!). E lembra um pouco o recente Lulu Nua e Crua, mas num outro tom, mais ligeiro, menos contundente. Mas indicado apenas ao público feminino com mais de quarenta.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.