A Condenacao do Poeta

As Cidades Condenadas (2023), de Jose Eduardo Degrazia, tem a aparencia duma coletanea de poemas mas apresenta em seu interior um tenue fio de consciencia narrativa

16/06/2024 04:03 Por Eron Duarte Fagundes
A Condenacao do Poeta

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Condenado a viajar pelo mundo, o poeta se condena a viajar nos versos. A poesia como viagem. O mundo como poesia. As cidades condenadas (2023), de José Eduardo Degrazia, tem a aparência duma coletânea de poemas mas apresenta em seu interior um tênue fio de consciência narrativa. É seu dado de uniformidade: tanto estética quanto humana, essa uniformidade.

As cidades por onde o poeta andou formam a memória e o tempo dos poemas. São as formas da cidade que vão corresponder aos versos que o rigor e a imaginação do escritor constroem, em esforços e espontaneidade. Talvez o poema central dos tentáculos que se apresentam no livro seja  Nos subterrâneos da metrópole.

“É estranho viajar nos subterrâneos

das grandes cidades do mundo”

As relações entre viagem e poesia se encontram ali, nestes subterrâneos,

“com seus caminhos de aço, tubos, cimento,

conexões e máquinas luminosas,

os trens dos aeroportos atravessando

a escuridão dos túneis desmedidos.”

As coisas se fundem na mente do poeta.

No tempo:

“Tudo o que me habita das gerações

passadas  e coisas antigas e defuntas

tudo eu quero trazer de novo à vida

com o sopro da minha poesia.”

No espaço:

“Sim, andei muito, e continuo andando

Por cidades reais e inventadas,

As minhas cidades condenadas.”

Toda poesia se interliga. O poeta condenado a escrever. E a conviver.

“Em Porto Alegre vou ao bar do Beto

para encontrar o Luiz de Miranda,

e ficamos contando as viagens,

que fizemos nas asas da fantasia.”

O poema como necessidade. Mas imperiosa.

“Poemas não são necessários

Penso—

Mas eu os escrevo.”

As cidades condenadas divaga mas ali tudo se conecta. Aqui, nestas anotações a esmo, o comentarista sente dificuldade de captar a unidade rítmica com que a leitura dos poemas surge na cabeça do leitor. Ainda assim, está condenado a escrever, e a transcrever: para tornar a sentir o poema que lhe escorreu da página aos olhos.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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