A Condenacao do Poeta
As Cidades Condenadas (2023), de Jose Eduardo Degrazia, tem a aparencia duma coletanea de poemas mas apresenta em seu interior um tenue fio de consciencia narrativa
Condenado a viajar pelo mundo, o poeta se condena a viajar nos versos. A poesia como viagem. O mundo como poesia. As cidades condenadas (2023), de José Eduardo Degrazia, tem a aparência duma coletânea de poemas mas apresenta em seu interior um tênue fio de consciência narrativa. É seu dado de uniformidade: tanto estética quanto humana, essa uniformidade.
As cidades por onde o poeta andou formam a memória e o tempo dos poemas. São as formas da cidade que vão corresponder aos versos que o rigor e a imaginação do escritor constroem, em esforços e espontaneidade. Talvez o poema central dos tentáculos que se apresentam no livro seja Nos subterrâneos da metrópole.
“É estranho viajar nos subterrâneos
das grandes cidades do mundo”
As relações entre viagem e poesia se encontram ali, nestes subterrâneos,
“com seus caminhos de aço, tubos, cimento,
conexões e máquinas luminosas,
os trens dos aeroportos atravessando
a escuridão dos túneis desmedidos.”
As coisas se fundem na mente do poeta.
No tempo:
“Tudo o que me habita das gerações
passadas e coisas antigas e defuntas
tudo eu quero trazer de novo à vida
com o sopro da minha poesia.”
No espaço:
“Sim, andei muito, e continuo andando
Por cidades reais e inventadas,
As minhas cidades condenadas.”
Toda poesia se interliga. O poeta condenado a escrever. E a conviver.
“Em Porto Alegre vou ao bar do Beto
para encontrar o Luiz de Miranda,
e ficamos contando as viagens,
que fizemos nas asas da fantasia.”
O poema como necessidade. Mas imperiosa.
“Poemas não são necessários
Penso—
Mas eu os escrevo.”
As cidades condenadas divaga mas ali tudo se conecta. Aqui, nestas anotações a esmo, o comentarista sente dificuldade de captar a unidade rítmica com que a leitura dos poemas surge na cabeça do leitor. Ainda assim, está condenado a escrever, e a transcrever: para tornar a sentir o poema que lhe escorreu da página aos olhos.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br