A Força dos Tolos

Star Wars: o Despertar da Força é uma narrativa duma época em que a prepotência da imagem é quase tudo em cinema

14/03/2016 13:55 Por Eron Duarte Fagundes
A Força dos Tolos

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Peça iconográfica dos signos da ficção científica no cinema, Guerra nas estrelas (1977) enriqueceu seu diretor, George Lucas, que de lá para cá virou um empresário do cinema, o que quer dizer um produtor de filmes comerciais, especialmente aqueles que deram sequência a sua saga estelar. Agora é a vez de Star wars: o despertar da força (Star wars: episode VII, the force awakens; 2015), recebido com o barulho de sempre em vários recantos do mundo pelos admiradores de folguedos espaciais criado por Lucas há vários anos e que, tirantes os avanços tecnológicos, muda muito pouco em sua essência para que se diga que se está vendo algo mais ou menos novo, como querem alguns de seus entusiastas.

De uma certa maneira, as ingenuidades de concepção narrativa da ficção científica em cinema não estão somente em Lucas, faça-se justiça. Steven Spielberg as utilizou abundantemente em seu feérico Contatos imediatos do terceiro grau (1977), um irmão gêmeo, outro símbolo da corrida espacial americana nas telas. E mesmo Stanley Kubrick, em seu antecessor 2001, uma odisseia no espaço (1968), como o demonstra a ensaísta Pauline Kael, não foge a certos lugares comuns das linhas do gênero. É claro que os admiradores da sofisticação intelectual de Kubrick temos tapado os olhos para esta realidade descortinada habilmente por Pauline. Mas diante desta realização de J.J. Abrams, que busca despertar o espírito adormecido da imaginação de Lucas, os estereótipos dos embates maniqueístas no espaço chegam a situações muito mais constrangedoras se a gente esquecer um pouco a fácil invasão sensorial da imagem e se dispuser a usar um pouco o raciocínio, resistindo à hipnose a que nos induz uma sala escura de cinema.

Star wars: o despertar da força é uma narrativa duma época em que a prepotência da imagem é quase tudo em cinema. O uso da terceira dimensão, sejamos justos com o esforço, faz pleno sentido, para mergulhar o olho do espectador no delírio labiríntico dum espaço em que o sonho se torna tão livre que é aprisionado em suas próprias fantasias ilimitadas e inevitavelmente inconsistentes. Mas, bem de acordo com estes tempos pós-modernos em que os paradoxos se misturam, o novo Star wars usa referências políticas, históricas e sociais de maneira ambiciosa e estereotipada: o termo Resistência remete a um movimento francês da Segunda Guerra Mundial e a chamada Primeira Ordem nada mais é do que um desenho caricatural e rústico do nazismo. As metáfora usadas parecem despertar-nos a força de um pensamento tolo: estaria o cinema de entretenimento dos dias atuais desalienando-se, nesta época em que tudo é político, ao menos na aparência?

De tudo vai restar o reencontro sentimental-espacial entre Harrison Ford (Han Solo) e Carrie Fisher (Leia), um abraço perdido no espaço e na melancolia e na nostalgia dos que os idolatraram no passado. Dizem que Ford recebeu, e vai continuar recebendo, uma fortuna para participar deste filme. É surpreendente que numa sociedade de imagens de gente nova e num meio de expressão, o cinema, em que a juventude é muito mais requisitada, pelos aspectos vistosos de sua aparência, um velho senhor seja considerado fonte de riqueza. Onde está, afinal, a força dos tolos, na sombra ou na espada de luzes?

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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