RESENHA CRTICA: De Palma (idem)

Documentrio sobre De Palma, um polmico Diretor, que resgata o hoje esquecido cineasta

23/11/2016 21:31 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA: De Palma (idem)

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De Palma cartaz filme pôster

De Palma (idem)

EUA, 2015. 110min. Direção de Noah Baumbach e Jake Paltrow.

Antes de Scorsese, de Coppola e mesmo de Spielberg, os críticos tiveram outro queridinho, Brian De Palma, que veio antes e impressionou muito por causa da influencia de outros cineastas, de Godard à Hitchcock, em seu trabalho. E o mais curioso: o público também embarcou nessa, principalmente depois do sucesso de Carrie, a Estranha (1977), que revelou a obra de Stephen King no cinema. Tornou-se especialista em thrillers de suspense, em geral homenageando os filmes de Hitchcock, como a cena do chuveiro em Vestida para Matar, imitação de Psicose, ou Dublê de Corpo, que é uma junção de Janela Indiscreta e Um Corpo que Cai, além de usar Bernard Herrman, colaborador de Hitch, para as trilhas sonoras de seus filmes. Mais curioso ainda: nos anos 70, todos eles eram amigos e compadres, trocando palpites, ajudando nos projetos, até mesmo consumindo drogas juntos. Se outros se tornaram lendas vivas, ainda que mais ou menos aposentados, o único que não deu certo foi justamente o pioneiro deles. Aos 70 anos, está virtualmente desempregado, há anos tentando fazer outra refilmagem de seu ultimo sucesso, Os Intocáveis de 1987.

A explicação pode estar em seu próprio temperamento. Se Spielberg é um crianção, Coppola um bom vivant e Scorsese, o professor de cinema, De Palma criou uma imagem de antipático. Fiquei muito impressionado quando o entrevistei pela primeira vez no Rio, quando veio promover acho que Missão Impossível em 96. Ele me atendeu com poucas palavras e cheio de exigências. Quis que toda a sala fosse esvaziada, não queria ninguém em seu raio de visão e o tempo todo ficou me gravando com uma câmera pequena, dizendo que queria levar uma lembrança da viagem. Logicamente segurar uma câmera não é a melhor maneira de dar respostas inteligentes, que foram frias e burocráticas. Sai com uma certeza: De Palma ao contrário dos seus filmes era um chato.

E logo eu que admirava justamente sua capacidade de me surpreender. O que achava interessante em seus trabalhos era a habilidade com que movimentava a câmera, conduzia o espectador por pistas falsas (como no subestimado Um Tiro no Escuro onde brinca com o público que pensa que está vendo outra brincadeira com a cena do chuveiro de Psicose. Quando na verdade é uma denúncia política de um caso acontecido com Ted Kennedy misturado a Blow Up de Antonioni. Seria o que depois foi chamado de Pós-moderno, pegar emprestado dos outros para reciclar e reinventar. Aproveitando o fato de que o público já é super informado e esperto. Poucos se lembram, mas De Palma começou como cineasta experimental e independente, fazendo filmes contra a Guerra do Vietnã, fortemente influenciados por Godard e estrelados por Robert De Niro (Saudações, 68, Oi, Mãe, 70). Encontrou seu caminho quando resolveu emular Hitchcock em filmes que ainda hoje resistem bem: Irmãs Diabólicas (Sisters, 76), Trágica Obsessão (Obsession,76), além dos já citados  Vestida Para Matar (Dressed to Kill, 80) e Um Tiro na Noite (Blow Out, 81). Mesmo intercalando filmes propositalmente cults como O Fantasma do Paraíso (Phantom of the Paradise, 74) chegou ao delírio absoluto no descontrolado mas hoje cult Scarface (idem,  83, com AI Pacino e Michele Pfeiffer), recordista de uso de cocaína e uso de palavrões.

Mas já era irregular. Para cada Os Intocáveis (87) tinha uma bobagem como Quem Tudo Quer, Tudo Perde (Wise Guys, 86) ou fracasso absoluto como A Fogueira das Vaidades (The Bonfire of the Vanities,90). Acho que essa foi derrapada que Hollywood nunca lhe perdoou. Tom Cruise ainda pediu para ele dirigir seu primeiro Missão Impossível (Mission: Impossible, de 95) e Olhos de Serpente (Snake Eyes, com Nicolas Cage) teve seus momentos. Mas De Palma foi se tornando mais intratável, sendo forçado a procurar trabalho na Europa com Femme Fatale (idem, 2002).

Mas ninguém conseguiu perdoar seu Dália Negra (The Black Dahlia,06) ou a última tentativa de ser vanguarda, rodando em digital Redacted, em 2007, que passou em branco. O grande cineasta hoje está amargurado e solitário, o pior castigo de todos, começou mesmo a ser esquecido. Este é o filme que resgata e pode ser sua reabilitação embora agora pareça aposentado, gordo e feliz.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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