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Eu escolhi passar os primeiros dias de 2018 com um dos primeiros filmes que me fizeram tremer: O Massacre da Serra Elétrica

15/01/2018 13:58 Por Bianca Zasso
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Ano novo, velhos filmes. Não, isto não é uma inscrição de um cartão pessimista. É apenas uma das metas para 2018 que penso que todo cinéfilo deveria ter. Estamos na temporada de premiações e também das maratonas para dar conta de assistir o maior número possível de indicados. É parte da vida de quem escolheu o cinema como paixão. Mas é preciso encontrar um tempo para antigos amores e até desafetos. Voltar aos filmes que já cruzaram nosso olhar é uma experiência sempre interessante. Eu escolhi passar os primeiros dias de 2018 com um dos primeiros filmes que me fizeram tremer. Primeiro de medo, depois de felicidade.

O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper, criou um dos assassinos em série mais lendários do cinema, o temido Leatherface. Para a garota de pouco mais de dez anos que eu era nos anos 90, ele criou o temor de motosserras. No auge da adolescência, onde se anseia por sangue e tripas nas telas, o filme marcou pelas perseguições finais e os intermitentes gritos de pavor da sobrevivente Sally, interpretada por Marilyn Burns. Quase 20 anos depois da primeira sessão, num VHS de locadora um tanto gasto, volto a dar atenção a um dos melhores filmes de 1974 e, sem dúvida, o melhor da carreira de Hooper por meio do box lançado pela distribuidora Obras-Primas do Cinema. Não foi uma viagem no tempo. Foi uma redescoberta daquelas de causar brilho nos olhos.

A primeira meia hora, onde nada parece acontecer, a não ser pela aparição do sinistro irmão mais novo de Leatherface de carona na van verde da turma protagonista, e que hoje sabemos ser fruto do orçamento baixíssimo do longa, conquistou esta criatura de 30 anos. A construção de atmosfera lenta e precisa, que estoura nas sequências de ataques aos quatro amigos em busca do túmulo do avô dos irmãos Sally e Franklin tem muito a ensinar aos filmes de terror da última década, mais preocupados com o sangue que com o medo. Ao passarem em frente ao matadouro, um prenúncio da família canibal que será o centro das mortes, o grupo sente incômodo com o cheiro vindo do local. Literalmente, vai feder. E Hooper nos alerta sem precisar de diálogos mirabolantes, estratégia que alguns jovens diretores adoram incluir em seus filmes para dar mais dramaticidade. O resultado é um falatório que não faz com que levemos à sério. Aliás, quem disse que todo filme deve ser levado à sério? O Massacre da Serra Elétrica é a prova de que gente jovem que quer fazer grana com terror pode sim criar obras imortais.

Um pulo gigante, daqueles que só as lembranças permitem, nos leva até 1986, ano do lançamento de O Massacre da Serra Elétrica – Parte 2. Não foi apenas a década que mudou, mas o cenário. Sai a equipe reduzida e cheia de criatividade que Hooper formou, influenciado pelos quadrinhos de terror da EC Comics e lendas sangrentas natalinas, e entra em campo a produtora Cannon Films. Quem já esteve diante de uma produção dos israelenses Menahem Golan e Yoram Globus abe o que isso significa. O experimentalismo e o ritmo lento dão lugar a assassinatos já nos primeiros minutos. Os resquícios hippies são trocados pela figura do machão texano, na pele de um Dennis Hopper pouco convincente, mas que tem lá o seu charme.

O Massacre da Serra Elétrica – Parte 2 não tem a força de seu antecessor e não esconde que foi feito para arrecadar bilheteria e não para marcar época. Porém, seu entretenimento é bem superior a qualquer produção do gênero lançada nos últimos anos. O efeitos criados por Tom Savini continuam agradando quem gosta de direção de arte lindamente escatológica e a casa da família de Leatherface é um ambiente inesquecível. Não posso negar que ainda dou o título de preferido ao filme de 1974, mas a alegria que a continuação me trouxe, conseguindo o feito de me fazer rir numa tarde quente de janeiro, faz dela merecedora nem que seja de uma menção honrosa naquele lista que todos fazem mas nunca acabam de “os filmes da minha vida”. Uma prova de que, desde que eu nem sabia que era cinéfila, já me equilibrava na corda bamba entre os clássicos e aquilo que alguns chatos insistem em chamar de filmes menores.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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