Sieranevada
Um mês se passou da morte do patriarca de uma família romena. Para homenagear o pai morto, Larry (Mimi Branescu), um médico quarentão, reúne os parentes em um sábado. Naquele dia, ele e os familiares, de várias gerações, irão se confrontar com duras memórias e reviver um passado de perguntas sem respostas.
Sieranevada (Idem). Romênia/ França/ Bósnia e Herzegovina/ Croácia/ Macedônia, 2016, 173 min. Drama. Colorido. Dirigido por Cristi Puiu. Distribuição: Mares Filmes.
Indicado à Palma de Ouro em Cannes em 2016, “Sieranevada” foi o representante oficial da Romênia ao Oscar, mas não chegou à lista dos finalistas. Neste melancólico drama de família, a falta do diálogo nas relações humanas e o conflito de gerações exprimem a natureza existencial dos personagens, um tanto obscuros, integrantes de uma tradicional família de classe média. O sábado de encontro para homenagear o patriarca falecido contorna para temas filosóficos intermináveis, atingindo política e religião, que provoca comentários intolerantes e atritos de pensamento entre o grupo.
O diretor e roteirista Cristi Puiu, o maior realizador da Romênia atual, assume a posição de um observador da vida dessas pessoas de diferentes faixas etárias, a partir de detalhes das longas conversas travadas na sala de jantar, na cozinha, nos cômodos. Ele traça breves linhas dos rituais de celebração que reconciliam, dissolvidos por acalorados desentendimentos banais, captados por uma câmera posicionada num canto discreto. Por ela passam homens e mulheres, em enquadramentos inusitados, laterais, com objetos e cenários a mais no plano. O cineasta explora o pequeno espaço do apartamento onde tudo acontece, sem preocupação com o tempo (o filme atinge três horas de duração). Tudo num único dia, antes e após o almoço, com 10 atores em cena, como num teatro – há pouquíssimas sequências externas, como a da demorada abertura, na rua, durante uma colisão entre dois carros.
De monotonia compreensiva, tom tragicômico, extensos planos sequências e sem trilha sonora, o bom “Sieranevada” resulta num estudo complexo das relações de afeto/desafeto, do distanciamento de uma família por fatos equivocados do passado, com as qualidades máximas do cinema cult.
Autêntico exemplar de um país que pouco realiza cinema – na verdade é uma co-produção da Romênia com a França, Bósnia e Herzegovina, Croácia e a Macedônia, inteiramente rodada em Bucareste.
Grande obra do diretor Cristi Puiu, figura conhecida em Cannes pelos seus filmes – dois deles são “A morte do Sr. Lazarescu” (2005) e “Aurora” (2010). Já em DVD pela Mares Filmes.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com