O Ultimo Revolucionario

Em O Che que conheci e retratei (2007) Flavio retrata, em fotos e textos, o que lhe ficou de Ernesto Che Guevara, no encontro da Conferencia da OEA, na bela costa uruguaia, no inverno de 1961

21/06/2019 04:29 Por Eron Duarte Fagundes
O Ultimo Revolucionario

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No epílogo de Memórias do esquecimento (1999) Flávio Tavares anotava: “Por que não pensou que o começo de tudo está naquela manhã fria e úmida de 5 de julho de 1961, em Punta del Leste, no Uruguai, quando conheci Ernesto Che Guevara?” Em O Che que conheci e retratei (2007) Flávio retrata, em fotos e textos, o que lhe ficou de Ernesto Che Guevara, no encontro da Conferência da OEA, na bela costa uruguaia, no inverno de 1961; fala basicamente do Che visionário e profeta, o espírito em busca do “homem novo” que nunca chegou. Para completar suas obsessões em torno da figura de Che Guevara, um ser hoje em dia bastante anacrônico nesta era de pragmatismo conformista, Flávio dá sua visão cortante do indivíduo que seria o estopim daquilo que o próprio Flávio no Brasil pós-64, um homem da luta armada contra a ditadura, viveria: o resultado é o ensaio As três mortes de Che Guevara (2017).

Segundo Flávio, a primeira morte de Che, o sonhador, deu-se em Cuba, derrotado pela burocracia da revolução, depois no Congo, na África, onde foi parar sem ter as informações do local e apoio necessário para tentar as transformações revolucionárias, e finalmente sua morte física, a execução nos matos da Bolívia, numa emboscada que buscaram transformar em morte em combate. Ao evocar metáforas da morte do revolucionário como signo do fim das revoluções, cruzando-as com relatos tensa e densamente objetivos da trajetória de Che que viu ou de que se informou exaustivamente, Flávio une em si o jornalista e o poeta, o observador e o escritor. Se Che naufragou no mundo sem sonhos (o primeiro disparo foi em Cuba, lembra Flávio), é a literatura de Flávio que ainda restaura um pouco deste sonho, em tempos difíceis. Mergulhado em seu tempo entre opostos que de fato não lhe interessavam —o capitalismo e o comunismo—, com os quais teve desavenças fatais, o Che pintado em palavras por Flávio Tavares é uma imagem que ultrapassa as triviais polêmicas da atualidade em torno de Che e seus significados políticos para nos jogar no centro dum outro coração, um corpo em “pressa pela fuga, mas sempre fugindo em busca do impossível, em procura da utopia.” Não é esta, às vezes, a vontade que se tem diante do mundo em torno? É o que fez Che. É o que parece fazer Flávio em seu livro. É o que os leitores de Flávio, aquecidos pela evocação de Che, podem fazer.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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