Brinquedo Assassino
A pergunta agora eh Quem ainda tem medo do Chucky? Para responder essa pergunta chega a refilmagem dirigida pelo noruegues Lars Klevberg, em seu segundo trabalho
Nos anos 80 nem Woody nem Buzz Lightyear, o brinquedo mais popular do cinema era um boneco de cabelo avermelhado, vestindo um macacão com a frase “Good Guy” (Cara Bom) bordado no peito, mas empunhando uma faca na mão e pronto para matar qualquer um. A pergunta agora é “Quem ainda tem medo do Chucky?” Para responder essa pergunta chega a refilmagem dirigida pelo norueguês Lars Klevberg, em seu segundo trabalho. Confesso que como saudosista é difícil aceitar tantas refilmagens, muitas desnecessárias e mero caça-níqueis, mas não é que esse novo “Brinquedo Assassino” até que é bom?
Claro que existem adaptações ajustando a história aos tempos atuais, e o clichê de possessão pelo espírito de um serial-killer foi substituído por uma abordagem mais tecnológica. O novo Chucky ainda veste um macacão, agora trazendo a palavra “Buddi” (Companheiro), mas pensa e se move por ser uma inteligência artificial sem salvaguardas morais para guiar suas ações. Presenteado ao menino Andy (Gabriel Bateman que esteve no elenco de “Annabelle” em 2014), Chucky mimetiza as frustações, medos e sentimentos mal-direcionados de seu dono, que se sente mal por não ter a atenção desejada por sua mãe (Aubrey Plaza). Ela trabalha muito e ainda namora um homem casado, logo um brinquedo interativo parece ser uma ótima ideia pois Andy se sente deslocado e solitário muitas vezes, em plena pré-adolescência, um período difícil que deveria ser suavizado pela amizade com Chucky. O que Andy não sabe é que seu amigo iria levar todos esses sentimentos às últimas consequências a medida que tenta agradar e proteger Andy. O grande vilão pode não ser exatamente o boneco, mas a ausência familiar, o que fica na superfície da narrativa pois se trata de um filme de terror e não drama. Subentendemos que a mensagem é que não devemos usar a tecnologia como substituta da companhia e dos valores humanos. Chucky planeja, age sorrateiramente e mata por Andy, desprovido de qualquer limite moral.
O detetive Mike Norris (Brian Tyree Henry) parece entender a solidão de Andy e começará a desconfiar do rastro de sangue que se seguirá. Contudo, quem comanda o show a partir da metade final é Andy e seus novos amigos da vizinhança que se unem para destruir Chucky lembrando em muito a tour de force do clube dos perdedores em “It – A Coisa” ou os heróis mirins de “Stranger Things”. As diferenças entre o filme de 1988 e o atual são várias, mas fazem a história funcionar como um passatempo genérico das produções citadas, tendo a tecnologia como fio condutor, sem nenhum elemento sobrenatural.
No filme original, de 1988, Chris Sarandon vivia o papel do corajoso policial. Ele se torna também emocionalmente interessado em Karen (Catherine Hicks), a mãe de Andy (Alex Vincent), e vem a desconfiar do poder sobrenatural do boneco infantil. Na época, o filme era apontado como um triunfo dos efeitos especiais convincentemente sincronizando movimentos, expressões faciais e labiais na voz de Brad Dourif, que fazia o assassino Charles Lee Ray cuja alma corrompida vem a habitar Chucky com a intenção de transferi-la para o corpo do menino Andy. O nome do vilão é um amalgama de três assassinos da vida real: Charles Manson (assassino, Lee Harvey Oswald (assassino de John F. Kennedy) e James Earl Ray (assassino de Martin Luther King). Don Mancini, o criador de Chucky posteriormente disse que a história original ganhou elementos de vudu quando seu roteiro original foi refeito por John Lafia e Tom Holland, diretor do filme. O sucesso levou a um total de 6 sequências: “Brinquedo Assassino 2” (1990), “Brinquedo Assassino 3” (1991), “A Noiva de Chucky” (1998), “O Filho de Chucky” (2004), “A Maldição de Chucky” (2013) e “O Culto de Chucky” (2017), sendo os dois últimos lançados diretamente no mercado de home vídeo. Entre todos o mais interessante é “A Noiva de Chucky” de Ronny Yu em que a franquia assume de voz o tom de “terrir”, sem se levar a sério afinal são dois bonecos possuídos, o outro sendo a voz de Tiffany (Jennifer Tilly), numa homenagem/paródia ao clássico “A Noiva de Frankenstein” (1935). Desde “O Filho de Chucky” que o próprio Don Mancini assumiu a direção dos filmes, mas não aprovou a refilmagem de “Brinquedo Assassino” , e já anunciou planos de uma série de tv para dar sequência aos eventos de “O Culto de Chucky”.
Talvez as plateias de hoje não se impressionem tanto quanto há 30 anos atrás, quando a voz de Brad Dourif, agora substituído por Mark Hamill (o Luke Skywalker de “Star Wars”), provocava medo em passos mecânicos e lentos, agora aperfeiçoados pelos avanços da técnica de animatronics. Ainda que não tenha sido nenhum triunfo de bilheteria ao ser lançado nos Estados Unidos em Junho passado, seu resultado fraco de apenas $29,208, 403 (segundo o site especializado Boxofficemojo.com) já deu retorno graças a seu orçamento baixo, em torno de $10,000,000,00, o que pode significar uma possibilidade de continuação. E pensar que quando criança o Falcon nunca ganhou vida, mas bem que podia!
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com