Va e Veja

Em 1943, o garoto Florya (Aleksey Kravchenko), morador de uma aldeia na Bielor?ssia, vivencia os horrores da guerra quando, ao encontrar um rifle na praia, junta-se ao ex?rcito sovietico contra os nazistas

16/01/2020 14:03 Por Felipe Brida
Va e Veja

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Vá e veja (Idi i smotri). URSS, 1985, 142 minutos. Drama/Guerra. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Elem Klimov. Distribuição: CPC-Umes Filmes

Um dos dramas de guerra mais chocantes já produzidos no cinema, “Vá e veja” (1985) ganhou em dezembro passado uma excelente cópia restaurada pela Mosfilm, disponível no mercado brasileiro em Bluray pela CPC-Umes Filmes. É a melhor que podemos encontrar, lembrando que há alguns anos o filme saiu em DVD tanto pela Lume quanto pela própria CPC numa cópia riscada, com granulações, além da metragem reduzida. Pelo minucioso trabalho de restauração, o filme ganhou um prêmio em 2017 no Festival de Veneza, onde foi exibido em sessão especial - a cópia em BD realmente está um deslumbre de nitidez e som, com a duração original de 142 minutos.

Existem muitos filmes sobre o olhar de uma criança sobre a guerra, mas nenhum com tamanho impacto visual que “Vá e veja”. Próximo dele somente o angustiante “O pássaro pintado” (2019), que vi no ano passado na Mostra Intl de Cinema de São Paulo, uma fita húngara pré-selecionada ao Oscar.

Em “Vá e veja” temos como protagonista Florya (Aleksey Kravchenko, que estreava no cinema aos 16 anos), um garotinho que, depois de encontrar um rifle enterrado num corpo na areia da praia, alia-se a um grupo de jovens para lutar na Segunda Guerra Mundial. Aqueles meninos seguem ao lado da Resistência Soviética rumo ao campo de batalha. Florya não compreende o que está ocorrendo ali, de início parece uma aventura pela floresta. Pelo caminho cruzará as linhas inimigas, será torturado e inevitavelmente verá aldeias inteiras serem consumidas pelas chamas.

Gravado com câmera em constante movimento, o drama narra um amargo capítulo da Segunda Guerra Mundial, a ocupação dos nazistas na Bielorrússia, onde milhares de vilas foram dizimadas e cerca de seiscentos mil soviéticos morreram nessa região - com o fim da URSS, em 1990, a Bielorrússia, que faz fronteira com a Rússia, Polônia, Ucrânia, Lituânia e Letônia, tornou-se independente, sob o nome de República de Belarus. Carrega uma forte mensagem antiguerra, que provoca em nós uma aturdida reflexão sobre o lado sombrio do ser humano, capaz de cometer atrocidades sem limites – o filme, quando lançado, chocou pelas cenas violentas, como a do galpão incendiado com centenas de pessoas dentro enquanto os alemães comem lagosta e se divertem vendo as pessoas carbonizarem.

O trabalho do protagonista é ótimo, e a trilha sonora é uma obra-prima à parte, assim como a fotografia enevoada.

Último trabalho do diretor de “Agonia Rasputin” (1981) e “A despedida” (1983), Elem Klimov, ex-marido da cineasta Larisa Shepitko, de “A ascensão” (1977), falecida em um acidente de carro. Foi o seu trabalho com maior dimensão psicológica e criativa, impactante desde o título, uma alusão a uma passagem do Apocalipse de São João, referente ao inferno e ao juízo final. Indicado para público com nervos de aço.

 

 

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Sobre o Colunista:

Felipe Brida

Felipe Brida

Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com

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