RESENHA: No (Noah)

Segundo Rubens Ewald Filho, este um bom filme bblico diferente dos que estamos acostumados a assistir, quase de autor.

01/04/2014 10:15 Da Redação
RESENHA: Noé (Noah)

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

Noé (Noah)EUA. 14.

Direção de Darren Aronofsky. Roteiro de Darren e Ari Handel. 138 min. Com Russell Crowe, Jennifer Connelly, Anthony Hopkins, Emma Watson, Ray Winstone, Logan Lerman, Douglas Booth, Nick Nolte, Madison Davenport. Paramount.

Este é um filme bíblico diferente dos que estamos acostumados a assistir, quase de autor. Nada a ver com a tradição do gênero praticamente inventado por Cecil B.De Mille (Sansão e Dalila) que misturava sexo e religião. Também é completamente oposto ao filme Bíblia (1966) de John Huston, que também utilizava o Genesis, deixando a parte final para o próprio diretor Huston fazer o Noé, ouvindo a voz de Deus (aqui chamado de Criador!) e de forma relativamente tranquila chamar os bichos (a novidade: para não ter problemas com eles, todos eles entram na arca aos pares, meio rapidamente, de tal forma que mal da para identificá-los. E caem dormindo! Talvez tenham feito isso para evitar comparações com outro filme de Arca de Noé, aquela comédia de Steve Carell, A Volta do Todo Poderoso (07), de Tom Shadyac que era caótico mas tinha momentos divertidos).

Este é o primeiro filme do diretor Aronofsky desde Cisne Negro (sempre trabalhando com o mesmo roteirista de todos seus trabalhos) que tem um orçamento generoso (ao que parece 125 milhões tendo rendido 43 milhões de dólares no primeiro fim de semana  e foi rodado  na Islândia, no México (Durango). Houve uma controvérsia muito grande antes do lançamento porque o estúdio sofreu criticas de lideres religiosos cristãos que o criticavam porque  o filme estaria fugindo da História. A desculpa oficial era que o trecho que aborda Noé e o dilúvio na Bíblia era muito pequeno e sucinto, não entrando em detalhes. Portanto tomaram liberdades. Darren ficou muito aborrecido porque começaram a fazer diferentes versões do filme e exibi-las , sem consultar  o diretor. O mais curioso é que não perceberam que o trabalho de Darren é muito religioso,ainda que influenciado pelo visão judáica do Velho Testamento. Mas o final foi feliz porque isso serviu de publicidade para o filme que acabou tendo boas criticas e boa bilheteria (ate na Rússia estreou bem!).

Mas fique preparado porque é um filme sombrio, nada “technicolorido”, mas não muito violento. Ao contrário é bastante místico, dando uma visão literal do dilema de Noé que acaba sendo um servo de Deus que tem que entender o que ele deseja, embora este nunca se manifeste tão abertamente quanto em filmes anteriores. Ele tem sonhos e precisa decifrá-los e às vezes o faz de maneira errônea. O titulo é correto porque o filme é todo em cima da figura de Noé, desde jovem  quando relembra a expulsão do paraíso (Adão e Eva são vistos como figuras distantes e estilizadas, não dá para ter nudez ) e logo depois Caim matando Abel e dando origem a uma linhagem de homens maus e sem lei, que serão os vilões da história. O fato é que o roteiro fez tudo para tornar a historia mais intensa e conflitada. Assim temos o avô da família, o Matusalém (feito por Anthony Hopkins), que chega a ter poderes mágicos e o chefão vilão da  tribo que descende de Caim, Tubal Cain (o bom ator Ray Winstone) que até mesmo se infiltrar na arca esperando o melhor momento para  atacar Noé. Além disso, Noé tem três filhos, o mais velho Shem (Douglas Booth, inglês bonitinho e dentuço que antes fez a mais recente versão de Romeu e Julieta, ainda inédita no Brasil) – será este Shem que pela Bíblia dará origem aos semitas, ou seja, aos que chamamos de judeus. É o bom rapaz que namora uma jovem que convenientemente foi adotada pela família (o problema dela ser estéril será miraculosamente resolvido, aliás o único milagre do filme! Por isso parece meio fora de lugar...).  Tem ainda o jovem Jafeth (Leo Hugh Carroll, que parece feminino demais) e o rebelde Ham (interpretado pelo já famoso Logan Lerman, o Percy Jackson) que  faz a linha adolescente rebelde, pensando com os órgãos sexuais e não a razão. Também quer uma mulher para si e entra em conflito com o pai quando não consegue, pensando então em traição.

Talvez a melhor surpresa do filme seja ver que Russell Crowe tem seu melhor momento nos últimos anos (na verdade, já o tinha dado como perdido e canastrão) mas olha outro milagre, sai-se muito bem num papel muito difícil, que por vezes se torna antipático e tem que tomar decisões muito difíceis, fazendo o filme pesar demasiado. Não é surpresa nenhuma, porém ter o prazer de ver Jennifer Connelly (novamente com em Russell de Mente Brilhante) fazendo a mulher de Noé, Naameh, com toda discrição e delicadeza ate o momento em que tem seu grande desabafo. Outra boa figura é a de Emma Watson, que quem diria, amplia sua carreira como Ila, a filha adotada em cima da qual acontece o maior conflito do filme.

Outra coisa: não espere muitos efeitos de ação ou de 3D com a Arca ou a água da chuva ou da enchente sendo jogada no espectador.  Esta tudo ali a serviço de um drama inusitado, levado e discutido a sério.

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

Linha
Todas as mterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantm voc conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar voc pode compartilhar suas preferncias, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se j!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro