Love (Idem)

Este é o novo filme do polêmico diretor francês Noé que incomodou e escandalizou com Irreversível

10/09/2015 16:17 Por Rubens Ewald Filho
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Love (Idem)

França, 15. 134 min. Direção e roteiro de Gaspar Noé. Com Aomi Muyock, Karl Glusman, Klara Kristin, Juan Saavedra, Gaspar Noé (como o dono da galeria), Vincent Maraval.

Exibido no último Festival de Cannes, sem levar prêmios, porque estava fora de concurso, este é o novo filme do polêmico diretor francês Noé que incomodou e escandalizou com Irreversível (2002), que mostrava um estupro que resultava penoso e chocante, dando a impressão de que o realizador se comprazia com a violência extrema. E por vezes a irritação que provocava desafiava suas outras qualidades. Com Love ele vai ainda mais longe, mas de forma mais controlada. O realmente curioso é que o filme contem sexo explicito de diversas formas e não mais nos choca. Talvez porque não haja violência. Ou será que já vimos demais pornografia mesmo na Internet, para nos incomodar com a banalidade do sexo entre um casal? Sem termos envolvimento emocional com eles?

Noé dizia em Cannes que era uma história de amor pelo ponto de vista sexual, com um roteiro de apenas sete páginas que ele concebeu antes mesmo de Irreversível. Chegou a oferecer antes o projeto para o casal daquele filme Cassel e sua então mulher Monica Bellucci, casados na vida real, que acabaram por não se sentirem confortáveis, em particular na sequência com o travesti. Fizeram então o outro filme que não tinha nada explícito. Quando chegou a hora de rodar o filme com desconhecidos, resolveu fazer as cenas de sexo antes, em geral com duas câmeras, para que não houvesse desistências. Mas também não deu direções, ou coreografou a ação, apenas colocou as câmeras na posição correta para filmar (aliás o 3D não tem maior impacto). Apenas o rapaz Karl Glusman era ator profissional, as duas mulheres eram estreantes.

A história não é contada de forma linear. O protagonista chamado Murphy é um jovem pai depois de um ano e vive como casal com Omi. Uma manhã recebe um telefonema da mãe de sua ex, Electra, com quem viveu uma paixão e esta preocupada porque a filha não lhe dá noticias há duas semanas. Isso provoca as lembranças e encontros. Gaspar Noé é um diretor que trabalha com símbolos sutis que expressam o todo do filme em apenas um fragmento de cena ou personagem. No filme Irreversível ele usava a cena do banheiro público em que um velho estranho, que representa a figura do sábio, conta uma parábola para os três jovens rebeldes. Naquele discurso contém toda a saga da história e a missão de cada personagem.

Em Love o lustre tem a mesma função dramática. Vale notar que ele é inserido em três momentos da história, num deles nitidamente deslocado do quarto do jovem casal que acaba de transar. Todos sabem que sua luz cega e aprisiona as vespas - pequenos insetos em geral - que não conseguem sair de perto, pois estão fadados ao último voo do rodopio da dança da morte. Do mesmo modo, nós humanos somos aprisionados por essa luz da paixão que cega.

A pulsão irracional da paixão em Love, já que aprisionada ao sexo onipresente em suas relações, pois nossos personagens se encontram constantemente sitiados nesse fenômeno, nos remete às nossas sombras da Caverna de Platão. E, principalmente, à ironia daquilo que vislumbramos enquanto amor.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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