Godzilla Vs Kong
O novo filme segue a vibe moderna dos confrontos com sabor de videogame
Há muito tempo aguardado, o ápice do Monsterverso iniciado em 2014 com a refilmagem de “Godzilla” finalmente chega ao Brasil depois de inúmeros adiamentos. O sucesso de seu lançamento confirma o forte apelo dos monstros entre crianças e adultos. O filme amarra os pontos entre “Kong – A Ilha da Caveira” (2017) e “Godzilla – Rei dos Monstros” (2019). Embora nesse último, Godzilla tenha se mostrado o protetor da humanidade, algo está errado e rei dos monstros começa um rastro de destruição que acende o pavio para esse confronto titânico.
Há algo de catártico em ver essas duas criaturas colossais se enfrentando, enquanto as notícias de mortes por covid provocam mais sustos que filmes de terror. Mas, se engana quem pensa que esta é a primeira vez que ambos se encontram. Em 1962, o mestre Ishirô Honda (diretor do filme original de Godzilla) realizou “King Kong vs Godzilla”; que como sugerido pelo título, faz do símio o grande favorito, numa luta coreografada com dublês vestindo trajes de borracha, que em nada lembram os modernos efeitos de CGI. Um ano depois, o filme da Toho foi reeditado com cenas adicionais para lançamento fora do Japão.
O novo filme segue a vibe moderna dos confrontos com sabor de videogame, que já teve Batman enfrentando Superman, ou Capitão América enfrentando Homem de ferro. Mas não apenas de monstros trocando golpes vive o filme, já que Madison (Millie Bobby Brown, de Stranger Things) insiste em entender a mudança de comportamento de Godzilla, enquanto a empresa Monarch mantem Kong preso em um ambiente virtual que simula a ilha da Caveira, onde é estudado pela antropóloga Dra Ilene Andrews (Rebecca Hall) e sua filha adotiva surda Jia (Kaylee Hottle). Claro que o ataque do lagartão tem um motivo ..., mas sem spoilers !!! O que não seria um problema já que a previsibilidade do roteiro é nítida por 113 minutos de muita ação, enquanto os personagens humanos se juntam ao geólogo Dr. Nathan Lind (Alexander Skarsgard) em uma trama que envolve jogos de poder, e supremacia no mundo entre homens e monstros.
Esse convívio, ou melhor conflito, sempre gerou diversas pérolas cinematográficas, muito anterior ao surgimento nas telas de Kong, em 1933, ou Godzilla, em 1954. O próprio Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, imaginou homens e dinossauros (que nunca co-habitaram o planeta) no livro “O Mundo Perdido” (The Lost World) em 1912. Mas foram as habeis mãos de Willis O’Brien, Ray Harryhausen e Eiji Tsuburaya que deram vida aos monstros do cinema, muito antes do advento das imagens geradas por computador. Foi O’Brien quem fez do Kong original a oitava maravilha do mundo, Harryhausen nos fez crer que um dinossauro invadiu Nova York em “O Monstro do Mar”, de 1953, e Tsuburaya foi o técnico de efeitos especiais no Godzilla original, além de pai do herói nipônico Ultraman.
A ERA DOS MONSTROS
Se já havia interesse por filmes de monstros muito antes do nascimento de Godzilla, não há dúvida de que o grande lagartão da era atômica fez destes um fenômeno pop, que foi além das fronteiras nipônicas, e fez do “Kaiju”, a palavra japonesa para monstro, um gênero prolífico. Assim, em 1956 o mundo conheceu a fúria de “Rodan”, um pterossauro que fez sucesso em filme solo, sendo em seguida usado em diversas sequências de “Godzilla” desde 1964. Em 1961 surgiu “Mothra”, uma mariposa gigante que foi chamada de deusa selvagem e protetora de seu povo, rivalizando com Godzilla no número de aparições em filmes. Três anos depois tivermos King Ghidorah, o dragão de três cabeças, seguido de Gamera, a tartaruga gigante que cospe fogo. Em 1974, alienígenas criaram uma versão robótica maligna do rei dos monstros em “Godzilla vs Mechagodzilla”, mostrando que a criatividade não tinha limites para criar um espetáculo capaz de deixar pegadas profundas que marcariam décadas de cultura pop. Até o cinema britânico teve seu Godzilla genérico em “Gorgo”, de Eugene Lourié, onde um monstro pré-histórico percorre as ruas de Londres em 1961. Em tempos mais recentes diretores como Roland Emmerich, Guilermo del Toro ou J.J.Abrams revisitariam o gênero como na refilmagem de “Godzilla” (1998), nos monstros que enfrentam robôs gigantes em “Círculo de Fogo”, ou na criatura que arranca a estátua da liberdade em “Cloverfield – O Monstro”.
ESCOLHA UM LADO
O diretor Adam Wingard consegue inserir algo mais do que dois monstros saindo no tapa, retratando um laço entre a menina Jia e Kong, na mesma tradição do menino Elliot e E.T. As cenas do mundo subterrâneo lembra a busca de Arnie Saknussemm no clássico “Viagem ao Centro da Terra”, de Jules Verne, ou o mundo perdido de Conan Doyle. Isso é mais um elemento que faz do filme um agradável filme pipoca, uma diversão escapista sem grandes ambições, a não ser o de divertir o público, carente diante de um vírus que é um inimigo invisível, cujas variantes assustam mais do que Gamera ou Mechagodzilla. Assim, conseguimos vibrar com o confronto, e mais ainda quando ambos percebem ser necessário se unir em uma versão titânica de duplas como Riggs & Murtaugh (Máquina Mortífera), ou Reggie & Jack (48 Horas) porque o cinemão Hollywoodiano está carente de duplas, de diversão, de pancadaria até, que nos ajudem a extravasar essa energia. Boa notícia de que Wingard estará em breve no comando da adaptação de “Thundercats”, conforme anunciado. Nada profundo, apenas uma brincadeira de criança. Enquanto não vem, forme sua torcida organizada, pegue a pipoca, e assista ao filme.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com