OSCAR 2014: O Grande Mestre (Yi dai zong shi)

Representante oficial de Hong Kong na corrida do Oscar® de filme estrangeiro deste ano, acabou sendo indicado aos Oscars® de fotografia e figurino.

09/02/2014 00:13 Por Rubens Ewald Filho
OSCAR 2014: O Grande Mestre (Yi dai zong shi)

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O Grande Mestre (Yi dai zong shi)

Hong Kong, 13. Dirigido por Wong Kar Wai. Com Tony Leung, Ziyi Zhang, Chen Chang.

 

Representante oficial de Hong Kong na corrida do Oscar® de filme estrangeiro deste ano, acabou sendo indicado aos Oscars® de fotografia e figurino. Este é  o “novo” filme de Wong Kar Wai, foi, na verdade, anunciado como projeto, cerca de dez anos atrás e só agora começa a chegar às salas do mundo. Além do lendário perfeccionismo do diretor, os motivos para tamanha demora ainda são misteriosos, conta-se que o filme foi editado por mais de um ano e que foram feitos três edições diferentes (o corte “chinês” de 130 minutos, o corte do festival de Berlim de 123 minutos e o corte da Weinstein, de 108 minutos. Além disso corre a lenda de que existiria a versão realmente oficial com 4 horas que ele esta recusando liberar!). Tanto demorou a conclusão do filme, que foram lançados, não um, mas dois outros filmes sobre a mesma história e personagem (Ip-Man, o lendário mestre de Kung-fu, mestre de ninguém menos que o lendário Bruce Lee). Infelizmente, a espera não traduz a qualidade do filme, que, apesar de visualmente esplendoroso, peca pela progressão narrativa confusa e sem foco.

Wong Kar Wai, um dos mais respeitados cineastas da Ásia e autor de alguns dos melhores filmes chineses dos últimos vinte anos, como Felizes Juntos (1997), Amor à Flor da Pele (2000), Amores Expressos (1994), nunca foi, tecnicamente, um contador de histórias. É um esteta por natureza e um dos melhores. Em seus filmes de maior sucesso, o enredo e o roteiro eram apenas pretexto para a feitura de algumas das imagens mais bonitas e audaciosas do cinema. Kar Wai fazia uso de todas as possibilidades para criar suas imagens do monocromo para cores ultra-saturadas, lentes grande-angular ou olho de peixe, movimentos de câmera vertiginosos, closes e câmera lenta. E, o mais importante, através das imagens, sons e mise-en-scene, o diretor conseguia aquilo que é mais importante, extrair emoções e sensações verdadeiras do espectador, sem nunca ter que se preocupar muito com o enredo.

Infelizmente, O Grande Mestre além de ser, de certa forma, uma cine-biografia, é um filme que apresenta um roteiro denso, repleto de personagens, tramas e sub-tramas e, como dissemos, a narrativa nunca foi um dos maiores talentos do autor chinês. Combinada ainda com uma montagem paralela de diversas dessas tramas, sub-tramas, que se passam em épocas diferentes e se focam em personagens diferentes, fica bem difícil entender onde o filme está nos levando e porquê.

No entanto, o esteta Wong Kar Wai voltou à velha forma e o filme apresenta uma das fotografias mais bonitas deste ano e as sequências de combate são coreografadas impecavelmente, e o grande talento do diretor fala alto nessas cenas, em que é possível ver muito mais do que duas ou mais pessoas lutando. Tais sequências são pura poesia visual e despertam uma vasta gama de sentimentos e sensações. Wong Kar Wai como contador de histórias, é um grande esteta.

(Esta critica foi escrita por meu assistente Francisco Cannalonga mas resolvi assumi-la com crédito. Claro, porque concordo com tudo. O filme é difícil de seguir, porque há excesso de personagens e tramas. Confuso portanto. Mas eu cheguei a conclusão ainda no meio de que isso pouco me importava e passei a curtir seu esplendido visual, uma fotografia sensacional que dá ao filme um resultado mágico. Tem tanta coisa na vida que a gente não entende e gosta. Coloque entre elas este filme visualmente magnífico)

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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