Kathleen Turner está devoradora em Corpos ardentes (Body heat; 1981), o primeiro filme dirigido por Lawrence Kasdan (já conhecido da indústria por escrever roteiros para Steven Spielberg e George Lucas) e também o primeiro de Kathleen como atriz de cinema. E ela não está devoradora somente no sentido sexual ou a mente dominante de personagem, está também nestes sentidos, mas não somente. Sua interpretação é devoradora: parece querer engolir os sentidos do espectador. É Kathleen quem carrega boa parte da tensão narrativa deste filme; sem pudores em cena, com as genitálias feminina e masculina se tocando às claras diante das câmaras, em noites que exibem visualmente seu calor, os corpos constantemente suando, os atores têm uma amoralidade surpreendente para o universo do cinema americano.

Não é o filme definitivo do amor louco (O último tango em Paris, 1972, do italiano Bernardo Bertolucci, está mais neste conceito), nem se põe como um policial noir à altura de seu modelo que é Pacto de sangue (1945), filmado nos Estados Unidos pelo austríaco Billy Wilder. Com todos os vícios de direção de Kasdan (que gerariam no filme seguinte, O reencontro, 1983, um constrangedor choro nostálgico), Corpos ardentes não deixa de ser um belo filme; contando com a fotografia esfumaçada e quente de Richard H. Kline, o filme se esmera em sua caprichada produção visual que não deixa de ter sua pasteurização. Entre as aparições secundárias, é bom ver o frescor do então jovem Mickey Rourke, amigo da personagem de William Hurt e com uma enviesada função no crime da trama.

Se Corpos ardentes está longe de articular a linguagem cinematográfica de precisão e sensibilidade de movimentos que lhe apontaram seus admiradores da primeira fila, pode-se dizer que Kathleen Turner vive a mulher perigosa, fatal e dominadora por excelência. Uma atriz de grandes recursos.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)