A Viagem de Meu Pai
Aos 80 anos, o aposentado Claude Lherminier (Jean Rochefort) briga com suas enfermeiras por causa dos lapsos de memória. Tem um lado temperamental forte, que afugenta amigos e familiares, e por isto insiste em morar sozinho. Um dos poucos frequentadores de sua casa é a filha mais velha, uma empresária, Carole (Sandrine Kiberlain), que quer colocá-lo num asilo. Porém os planos de Claude vão além: ele pretende viajar para a Flórida, nos Estados Unidos, sem que ninguém saiba, para visitar a filha caçula.
A Viagem de Meu Pai (Floride). França, 2015, 109 min. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Philippe Le Guay. Distribuição: Mares Filmes
Produzido pela Gaumont e exibido no Festival Varilux de Cinema Francês 2016 (que ocorre em 60 cidades brasileiras, na metade do ano), “A viagem de meu pai” aborda um tema comum no cinema, a velhice, aqui elaborado sem dramalhão pesado, mas com humor e candura, apropriado para o público que curte filmes mais lentos, reflexivos. Foi o último trabalho do excelente ator francês Jean Rochefort, falecido em 2017 aos 87 anos. De maneira exata e brilhante, ele interpreta um aposentado que outrora havia sido um importante industrial em sua cidade. Hoje, senil e rabugento, enfrenta problemas de memória, não aceita ser cuidado pelos outros, tampouco pela filha mais velha, que o visita sempre (uma boa Sandrine Kiberlain, com química com Rochefort). O idoso se vê diante de fantasmas do passado, constantemente à espera de uma filha que nunca vem, mas deseja ir até ela, em Miami, no estado da Florida (daí a explicação do título, Floride, como metáfora aos sonhos desse senhor protagonista) – e nesse ponto haverá uma surpresa em relação à filha caçula, que o faz ser hostil com a primogênita, aquela que tenta cuidar dele e atualmente conduz os negócios do pai, na indústria.
Vendido erroneamente como um road movie (quase não existe esse tema no filme), aparece num bom momento das comédias dramáticas francesas, de forte aspecto intimista, sobre relações humanas, conflitos familiares e aceitação (no caso deste, aceitação da senilidade e a possibilidade da morte).
Mais um bom trabalho do diretor Philippe Le Guay, de “As mulheres do sexto andar” (2010) e “Pedalando com Molière” (2013), dois filmes que eu adoro e indico. Em DVD pela Mares Filmes.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com