O Cinema da Violencia Brutal de S. Craig Zahler

Conheca um pouco mais dos tres filmes dirigidos por Zahler, disponiveis em DVD e no streaming, todos com classificacao de 18 anos.

28/05/2024 17:31 Por Felipe Brida
O Cinema da Violencia Brutal de S. Craig Zahler

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O cinema da violência brutal de S. Craig Zahler

Diretor e roteirista, responsável por filmes violentos e desconcertantes, o norte-americano S. Craig Zahler, de 51 anos, integra a nova geração de cineastas autorais dos Estados Unidos. Sua obra – apenas cinco roteiros e três longas dirigidos – é marcada por personagens agressivos, de forte densidade psicológica, alocados em lugares caóticos, como deserto e prisão. As reviravoltas dadas nos filmes são assombrosas e nunca há finais felizes. Conheça um pouco mais dos três filmes dirigidos por Zahler, disponíveis em DVD e no streaming, todos com classificação de 18 anos.   Rastro de maldade   No Velho Oeste, durante a Guerra Civil Americana, um xerife veterano, Hunt (Kurt Russell), um delegado de meia-idade, Chicory (Richard Jenkins), e um pistoleiro especialista em armas, Brooder (Matthew Fox), unem-se a um homem chamado Arthur (Patrick Wilson), para cavalgar pelo deserto a fim de resgatar sua jovem esposa, uma enfermeira sequestrada por uma tribo de canibais.   Polêmica e chocante, foi a fita de estreia do diretor norte-americano S. Craig Zahler, que iniciou a carreira como diretor de fotografia em curtas nos anos 90 e escreveu antes apenas um roteiro, o do terror que se passa num hospital psiquiátrico ‘Desespero’ (2011), de Alexandre Courtès - nesse filme, Zahler já demonstrava gosto pelo macabro, por situações horrendas, com personagens sanguinários. Em ‘Rastro de maldade’ (2015), Zahler escreve e dirige uma história de crueldade e horror no velho oeste, acompanhando um grupo de homens durões, composto por xerifes e pistoleiros e um marido em busca de vingança, que iniciam uma saga para resgatar uma enfermeira – esposa de um deles, raptada por uma tribo indígena. Na verdade, não são indígenas qualquer, e sim um pequeno bando de canibais primitivos que se camuflam com tintas brancas pelo corpo, fazem armadilhas e atacam com flechas; eles matam, comem as vísceras e usam partes do corpo das vítimas para rituais. O grupo fará uma caminhada ao inferno, onde todos serão alvo desses selvagens. Zahler realizou um cult movie impressionante e diferenciado, com momentos de pura violência, como as cenas de canibalismo, sadismo e monstruosidades – por isso recebeu classificação de 18 anos. Ele fez muito com pouco – o orçamento beirou U$ 1,8 milhões, e gravou em apenas 20 dias, com um script escrito em 2007, ou seja, oito anos antes. Zahler faz uma mistura inusitada de gêneros, como o faroeste com terror, passando pelo drama, ação e aventura. Um amigo crítico de cinema e diretor de filmes, Hsu Chien, disse que assistiu uma espécie de ‘Rastros de ódio’ (1956) com ‘Holocausto canibal’ (1980) e ‘O predador’ (1987). O elenco está formidável nessa fita que exige muito dos atores – em especial o quarteto Russell, Wilson, Jenkins e Fox. Exibido em diversos festivais de cinema, onde ganhou prêmios, como BFI London, Sitges e Fangoria. Concorreu ainda no Film Independent Spirit Awards, nas categorias melhor roteiro e ator coadjuvante para Jenkins. Disponível em DVD e bluray e no streaming (Amazon Prime e Apple TV). Em DVD, saiu pela Califórnia Filmes em 2016, e anos depois, em 2021, em bluray pela Versátil em parceria com a Califórnia, numa caixa em luva reforçada com um disco com quase uma hora de vídeos extras, além de pôster, livreto e cards.   Rastro de maldade (Bone Tomahawk). EUA/Reino Unido, 2015, 131 minutos. Faroeste/Terror. Colorido. Dirigido por S. Craig Zahler. Distribuição: California Filmes (DVD de 2016) e Versátil Home Video/California Filmes (BD de 2021)     Confronto no pavilhão 99   Bradley Thomas (Vince Vaughn) é um ex-boxeador que trabalha numa oficina de carros. Por muito tempo usou drogas, hoje está ‘limpo’. Thomas perde o emprego e no mesmo dia descobre a traição da esposa, Lauren (Jennifer Carpenter), que está grávida dele. Para se sustentar, aceita um trabalho vendendo drogas, até que ele e seus parceiros caem numa armadilha e são presos após um tiroteio sangrento. Thomas é sentenciado a sete anos numa prisão. Lá segue sua rotina, até que a esposa é vítima de um sequestro, como represália daquele dia do tiroteio, em que milhões em drogas foram apreendidos pela polícia. Para ver a ex-mulher solta, Thomas entra num acordo com o chefão do crime – ele terá de eliminar um bandido perigoso que está numa prisão de segurança máxima próximo a sua cadeia.   Escrito e dirigido por um dos talentos mais impressionantes do cinema policial atual, o pouco conhecido S. Craig Zahler, cujos filmes precisam ser descobertos pelo público. Ele foi apontado como um novo Quentin Tarantino, um cineasta que faz obras frenéticas, com personagens complexos e de inúmeras camadas, com cenas grotescas de crimes e desfechos absurdamente chocantes. Esse filme foi planejado durante as gravações do anterior do diretor, ‘Rastro de maldade’ (2015), um pesado western com ação e momentos de terror com canibalismo, com Kurt Russell e Patrick Wilson, rodado dois anos antes. Em ‘Confronto’, Vince Vaughn, ator presente em boas fitas de comédia e drama, como ‘Penetras bons de bico’ (2005), entrega uma performance incrível, com a cabeça raspada, com uma cruz tatuada de fora a fora na nuca, um ex-boxeador traído pela esposa grávida, preso após um trabalho furado de tráfico de drogas que culminou com mortos. De poucas palavras, forte como um touro, ele sofre outro golpe do destino, quando a ex-mulher é sequestrada por um criminoso perigoso, e terá de fazer um acordo para lá de inusitado – e quase impossível – para que ela seja solta: entrar numa penitenciária de segurança máxima e matar um chefão do crime que domina o local. As situações das cenas de luta e tiros são realistas, nada de pirotecnias do cinema blockbuster; Zahler dá um tom melancólico para o protagonista e um grau de humanidade a todos os personagens. Jennifer Carpenter, da série ‘Dexter’, está correta como a esposa, ex-alcoólatra, Udo Kier, de ‘Bacurau’, faz um criminoso que negocia o acordo com ele, e o astro dos anos 80 Don Johnson, da série ‘Miami Vice’, aparece pouco, mas bem, como o diretor da penitenciária, um homem durão. Que filme espetacular e que diretor certeiro! O elenco todo retornaria no último filme do diretor – ele só tem três longas, chamado ‘Justiça brutal’ (2018), com Mel Gibson, em que ele e Vince Vaughn interpretam uma dupla de policiais que cometem atos ilegais na corporação e se infiltram no submundo do crime. ‘Confronto no pavilhão 99’ foi filmado numa prisão desativada, a Arthur Kill Correctional Facility, em Nova York, e numa instalação militar que lembra cadeia, a Fort Wadsworth, também em NY, o que dá o tom real necessário para a trama. O ‘pavilhão’ do título é referência a uma cena no fim do filme, mas até lá muita água irá rolar, muitas mortes e crimes, com uma tensão crescente, de um personagem que irá para o inferno para salvar a ex-esposa e o filho que irá nascer. Disponível em DVD pela Universal e no streaming para aluguel, no Prime Video, Youtube Filmes e Apple TV.   Confronto no pavilhão 99 (Brawl in cell block 99). EUA, 2017, 132 minutos. Ação/Drama. Colorido. Dirigido por S. Craig Zahler. Distribuição: Universal Pictures     Justiça brutal   A dupla de detetives Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Anthony Lurasetti (Vince Vaughn) é afastada da polícia por torturar um indivíduo envolvido com o tráfico de drogas. Há um vídeo da violência cometida por eles que viraliza, e os dois, logo depois, são demitidos da corporação. Sem emprego, mudam de lado, vão para o crime, roubando, a mão armada, dinheiro de assaltos cometidos por bandidos. Até que se deparam com uma perigosa organização munida de fuzis e armamento pesado.   O controverso cineasta norte-americano S. Craig Zahler, realizador do western com terror ‘Rastro de maldade’ (2015) e da chocante fita de ação que se passa em duas penitenciárias ‘Confronto no pavilhão 99’ (2017), trata nesse seu último longa-metragem a violência policial nos Estados Unidos. Seu cinema é forte, com cenas que chocam pelo grau de violência, em que ele não mede o senso – o anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, é o mais cruel e sanguinário das três obras do diretor, e este ‘Justiça brutal’ passa bem perto. No longa-metragem, dois detetives mão pesada praticam atos criminosos escondidos, até serem filmados por um anônimo e demitidos da corporação. Eles mudam de lado, roubando grandes quantias de assaltantes, até se depararem com um inimigo perigosíssimo. Nada caminha bem para eles, assim como em todas as obras do diretor – os personagens costumam ter um desfecho trágico, não há nem redenção nem final feliz. A moral dos personagens, e a do filme em si, é sempre duvidosa – justiça com as próprias mãos, justiça a qualquer preço, violência para conter violência, morte a bandidos independente do que fizeram. Os astros Mel Gibson e Vince Vaughn interpretam a dupla principal, um é tão corrompido quanto o outro, e juntos se entendem, forjando provas, torturando pessoas, cometendo delitos e até matando sem pestanejar. O filme recebeu uma chuva de comentários negativos na época, já que os personagens são racistas e preconceituosos, e atiram sem pensar duas vezes - numa das sequências, um dos bandidos explode o rosto de uma mulher no banco, com um tiro. É tanta brutalidade que recebeu uma indicação ao Razzie, o ‘Framboesa de Ouro’, prêmio dado aos piores do ano, numa categoria criada para o filme, chamada de ‘Desprezo pela humanidade’. Para assistir, é necessário conhecer o cinema de Zahler e ter nervos fortes. É um diretor duro na queda, brutal, que costuma chocar. Outro ponto que é estranho em seu cinema é o humor infame, com piadinhas toscas que ‘quebram’ o impacto das cenas mais violentas. Aqui ele aproveita parte do elenco do filme anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, como Vince Vaugh, agora como coadjuvante, Jennifer Carpenter, Udo Kier e Don Johnson. Foi o maior orçamento do diretor, com US$ 15 milhões, que realiza filmes baratos – mesmo assim, custando pouco, teve uma divulgação irrisória, e ninguém assistiu na época. Também é o de maior duração, com 158 minutos - mais um alerta para o público específico. Exibido no Festival de Veneza, foi distribuído no Brasil pelo Amazon Prime Video, disponível no streaming para assinantes. PS: Zahler dirige atualmente um novo filme policial, com Adrien Brody e Vince Vaughn, sobre dois veteranos da Segunda Guerra Mundial, traumatizados, que tentam reajustar seus últimos dias de vida. ‘The Bookie & the Bruiser’ tem previsão de estreia nos cinemas para 2025.   Justiça brutal (Dragged across concrete). EUA/Canadá/Reino Unido, 2018, 158 minutos. Ação/Drama. Colorido. Dirigido por S. Craig Zahler. Distribuição: Amazon Prime Video
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Sobre o Colunista:

Felipe Brida

Felipe Brida

Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com

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