Russ e Suas Garotas Maravilhosas
Investir num modelo de filme que dá certo até esgotar a última gota de paciência dos espectadores é fórmula velha não só em Hollywood
Faster, Pussycat! Kill! Kill!
Ano: 1965
Direção: Russ Meyer
Disponível em DVD pela Obras-Primas do Cinema (leia a resenha técnica Aqui)
Investir num modelo de filme que dá certo até esgotar a última gota de paciência dos espectadores é fórmula velha não só em Hollywood. Mas houve um homem que fez do seu olhar um subgênero do sexploitation, tornou-se objeto de culto e ainda pagou suas contas em dia. Seu nome: Russ Meyer. Sua estratégia: uma câmera, mulheres bonitas, sexo e violência sem medo de censura.
Faster, Pussycat! Kill! Kill! é o título mais lembrado da longa carreira de Meyer, que carregava o título de “Rei dos Nus”, e se vale de um fiapo de roteiro para criar cenas de ação com os belos corpos das moças Tura Satana, Haji e Lori Williams, que interpretam três dançarinas que, entre um show e outro, saem pelas estradas a bordo de seus carros esportivos. A intenção é pisar no acelerador e transformar em diversão o que surgir pelo caminho, o que inclui assassinatos e roubos. As moças de Russ Meyer não são santas nem estão em busca de redenção. Usar beldades como fio condutor da (pouca) história permite que o diretor experimente ângulos insólitos e cortes surreais. Adivinhar o que vem na cena seguinte é tarefa quase impossível diante de seus filmes e também parte de sua assinatura como cineasta, assim como o chamado “plano da minhoca” (sim, minhoca no sentido figurado!), criado para valorizar um belo par de peitos e mostrar o poder das mulheres que estavam diante de suas lentes. Mais que bonitas, elas eram forças da natureza que sabiam o estrago que podiam fazer quando eram provocadas. Tudo isso não bastou e alguns críticos acusaram Meyer de misoginia. Uma constatação um tanto estranha, visto que algumas das personagens mais poderosas dos anos 60 foram criadas por sua mente inquieta. Tura Satana, além de ter a melhor atuação de Faster, Pussycat! Kill! Kill!, virou modelo de mulher boa de briga, hoje um clichê nos filmes de ação com mais carros que pessoas no elenco. Décadas antes do “Girl Power” virar slogan da banda Spice Girls (que homenagearam o filme no clipe da música Say You'll Be There), Meyer já tinha suas garotas poderosas cantando pneu pelo deserto.
Faster, Pussycat! Kill! Kill! estava inédito em DVD no Brasil até o ano passado, quando a distribuidora Obras-Primas do Cinema presenteou os fãs com uma edição comemorativa dos 50 anos de lançamento do filme. Nos extras, um documentário de quatro episódios sobre a influência de Meyer na indústria dos filmes B e na cultura pop, com depoimentos do diretor John Landis e do crítico Roger Ebert. Todos são unânimes sobre a força do estilo de Meyer nas produções que assistimos hoje e até para o sucesso de filmes como Kill Bill, de Quentin Tarantino.
E fica o recado, caro leitor: EXPLORE! O cinema está sempre de portas abertas para novos amantes insaciáveis.
Sobre o Colunista:
Bianca Zasso
Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.