As Repeties de Kubrick

Stanley Kubrick, um dos gnios pomposos do cinema, fez sua banalidade de horror

03/01/2017 22:04 Por Eron Duarte Fagundes
As Repetições de Kubrick

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Stanley Kubrick, um dos gênios pomposos do cinema, fez sua banalidade de horror. O iluminado (The shining; 1980), relançado agora nos cinemas brasileiros, parte duma historieta de Stephen King para dar asas ao universo muito particular de Kubrick, com aquela opulência e criatividade visuais que atingiram em 2001, uma odisseia no espaço (1968) e Laranja mecânica (1971) seus delírios cinematográficos mais ferozes. Em O iluminado Kubrick repete algumas coisas levadas à depuração extrema nas obras-primas a que aludi na frase anterior. Uma destas coisas é o trabalho de Jack Nicholson, com trejeitos sarcásticos e brincalhões que parecem ressuscitar aquilo que Kubrick impôs a Malcolm McDowell em Laranja mecânica: uma certa dicção em que se força o sarcasmo, um certo exagero da face e do olhar, uma perversidade íntima da personagem construída como supracaricatura. São repetições que o gênio narrativo de Kubrick vai trabalhando. Outra coisa reencontrada em O iluminado é o gosto por cenários rigidamente artificiais, reforçando a ideia duma construção abstrata do cenário (lembremos um dito do realizador português João Botelho em outras circunstâncias: mais do que nunca, nestes tempos pós-realistas encenados pelos muçulmanos em Nova York em 2001 e em Pari em 2015, “cinema é artifício”). A ambientação inóspita de 2001 e os cartões de enquadramento de Laranja mecânica  acabam agindo sobre a cena de O iluminado, que é um labirinto mental onde o espectador vem a encontrar alguns de seus demônios. A cena de Nicholson correndo atrás do próprio filho de sua personagem, com um machado na mão e mancando, inicialmente em interiores, depois numa floresta externa que parece continuação  artificiosa dos interiores, é profundamente patética, uma imitação sofisticada de produções de horror de quinta categoria; mas Kubrick, é claro, acaba tendo o belo senso de filmar para salvar sua narrativa do desastre do vazio. No entanto, de maneira alguma perpetra uma obra-prima.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a dcada de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicaes de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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