Berliner Acerta o Ponto

Roberto Berliner fez antes alguns filmes mal-acabados que tinham boas coisas. Agora acerta o ponto com Nise...

09/03/2017 21:50 Por Eron Duarte Fagundes
Berliner Acerta o Ponto

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Roberto Berliner fez antes alguns filmes mal-acabados que tinham boas coisas. A farra do circo (2013) e especialmente A pessoa é para o que nasce (2005) tinham esta insana intenção de captar as ingenuidades desestruturadas da vida mas esbarravam em alguns pedregulhos antinaturais que estorvavam a fluência do relato. Talvez faltasse um centro, um nervo. Que chegou em Nise, o coração da loucura (2015), que flui entre o bressoniano e o documental de maneira indelével. Que é que dá a este novo filme de Berliner uma organicidade que os anteriores não tinham? Pode-se pensar que é a figura extraordinária da personagem de Nise da Silveira (1905-1999), uma psiquiatra brasileira, ex-aluna de Carl Jung, que, no Hospital Psiquiátrico de Engenho de Dentro, no Rio, nos anos 40, se revoltou contra o uso da violência no tratamento das doenças mentais e estabeleceu uma relação entre a arte e a loucura (seus doentes pintaram quadros que chamaram a atenção da crítica) que espantou os meios conservadores do Brasil de então.

Nise foi personagem do último filme de Leon Hirszman, o tríptico documentário Imagens do inconsciente (1983-1986), de quem Berliner recupera algumas imagens de Nise, bem velhinha e no entanto de mente vivaz. Gloria Pires, desglamurizada de seus artifícios telenovelescos e das facilidades cômicas com que em algumas narrativas popularescas paparica a plateia, dá vida a esta criatura complexa, com extrema dignidade; para os que se constrangeram com Glória na apresentação televisiva da cerimônia do Oscar de 2016, vê-la como Nise da Silveira, sóbria e interpretando um humanismo imbatível, dá gosto mesmo.

Acertando o ponto, Berliner abre uma nova perspectiva para o cinema brasileiro e para seu próprio cinema.

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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