Posar Para o Mundo

Strike a Pose presenteia o público com um documentário humano

17/04/2017 23:54 Por Bianca Zasso
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Se o prezado leitor já habitava este planeta nos anos 90 e nunca ouviu falar da turnê a Blond Ambition da cantora Madonna das duas, uma: ou você era um bebê ou estava em retiro espiritual sem nenhum contato com a vida em sociedade. Uma das mais controversas sequências de shows abalaram o mundo não apenas pelo conteúdo sexual das letras cantadas pela rainha do pop, mas também pelas incríveis coreografias apresentadas. O resultado foi que o sucesso tocou não apenas Madonna, mas os bailarinos que a acompanhavam e que são o centro das atenções do filme Truth or dare (lançado no Brasil sob o título Na cama com Madonna), que apresenta os bastidores da turnê e a intimidade da cantora com seus parceiros de palco. Vinte e cinco anos depois, os bailarinos Luis, Oliver, Salim, Jose, Kevin e Carlton ganham um documentário só para eles. Mas Strike a pose não tem o clima de festa eterna de Truth or dare.

Com direção de Ester Gould e Reijer Zwaan, Strike a pose tem início nostálgico, apresentando as novas realidades dos seis rapazes. Todos continuam no ramo da dança, sejam como professores e coreógrafos, mas o glamour se desfez e deixou marcas. Oliver e Kevin, por exemplo, processaram Madonna pelo uso de suas imagens, juntamente com Gabriel, integrante da trupe que morreu em 1994, em decorrência da AIDS, doença que era um dos assuntos mais presentes na turnê Blond Ambition, já que Madonna perdeu vários amigos nas mesmas circunstâncias de Gabriel.

E é justamente nesta questão que Strike a pose muda de ritmo e presenteia o público com um documentário humano. Isto porque, após uma parte inicial feita de lembranças, o filme foca nos dramas de três integrantes da trupe. Salim e Carlton, ambos soropositivos, esconderam o diagnóstico dos colegas de show, de Madonna e até do próprio círculo de amizades. Já Oliver, o único hétero, precisou vencer o preconceito antes de conseguir transformar os cinco bailarinos em amigos de verdade. Uma das mensagens de Blond Ambition, assim como de todas as canções de Madonna diz respeito a se expressar, gritar para o mundo quem realmente somos. E logo quem estava próximo dela trazia preso na garganta este grito. Os relatos de Salim e Carlton são emocionantes e mostram que, mesmo num ambiente dito liberal, é um desafio desabafar sobre a AIDS.

As melhores cenas de Strike a pose não são as falas ou as lágrimas dos bailarinos ao relembrar seus envolvimentos com drogas. Os sofrimentos não são explorados e os cortes acontecem na hora certa. Um minuto a mais e já seria exagero e exploração da dor alheia. A poesia é instalada no momento em que os seis são mostrados fazendo o que mais sabem e mais amam. Ao dançar, cada um no seu estilo, mas todos com resquício de vogue, a dança inventada por eles em Blond Ambition, eles deixam transparecer suas almas. São artistas talentosos antes de serem os “garotos da Madonna”. Guardam lembranças boas e ruins, mas todas elas são transformadas em movimentos.

Há uma máxima que diz que, por mais sinceros que sejamos, diante de uma câmera sempre medimos nossas palavras, encaramos personagens. O jantar organizado para reunir os seis bailarinos no final de Strike a pose subverte esta ideia. Depois de contarem as próprias histórias para uma câmera, juntos eles esquecem que o encontro é parte do roteiro do documentário. Bebem, riem, choram e se abraçam sem pensar no melhor ângulo ou na frase de efeito. E nos ensinam outra máxima. A de que depois da tempestade vem a bonança. Depois de enxugar as lágrimas, fazemos a pose e seguimos em frente.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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