Audazes e Malditos
Num forte militar no Arizona, em 1881, um crime abala os oficiais. O líder do grupo foi assassinado juntamente com a filha, após ter sido estuprada. O principal suspeito é o sargento negro Rutledge (Woody Strode), levado para a corte marcial para julgamento. Acreditando na inocência do colega, o tenente Tom Cantrell (Jeffrey Hunter) assume a defesa do réu, num esforço tremendo para livrar Rutledge da prisão.
Audazes e malditos (Sergeant Rutledge). EUA, 1960, 111 min. Faroeste. Colorido. Dirigido por John Ford. Distribuição: Classicline e Versátil
Faroeste marcante e diferente de John Ford, um gênio no assunto, num de seus últimos trabalhos, inteiramente filmado nas locações preferidas do diretor, Monument Valley, no Arizona. É uma obra incomum por tratar de três assuntos distantes do mundo do western: racismo (o sargento negro torna-se presa fácil de comentários preconceituosos e xingamentos), estupro (era tabu tratar dessa questão no cinema também) e julgamento (70% do filme ocorre no tribunal), apurados de forma vigorosa pelo mestre John Ford. Conseguiu arrancar dos dois atores principais um trabalho visceral – é o grande momento de Woody Strode, sujeito visto sempre como coadjuvante em papeis pequenos, e do galã Jeffrey Hunter, que no ano seguinte seria Jesus Cristo em “O rei dos reis” (1961), e morreria prematuramente em 1969, aos 42 anos, de derrame cerebral. Do início na rígida corte marcial que irá dar o veredicto a Rutledge ao final inesperado, o filme é pautado por flashbacks curiosos e reveladores, com ótimos diálogos milimetricamente construídos e claras referências ao término da Guerra Civil Americana, que, na história, acabara uma década e meia antes. Nas entrelinhas, os comentários acerca do final da Guerra de Secessão reafirmam o preconceito em torno dos negros e da não aceitação da derrota dos Confederados (o Estado do Arizona, onde se passa o filme, apoiou os Confederados, que eram escravistas e tinham o negro como mão-de-obra). Além da carga policial em tom investigativo, “Audazes e malditos” pode ser considerado um faroeste psicológico de tribunal, tamanho o leque de possibilidades que o cineasta John Ford deu a esta obra-prima. Filmão de primeira qualidade!
Está disponível em DVD por duas distribuidoras: pela Versátil, no box “Cinema Faroeste – volume 1” (com outros cinco filmes) e recentemente pela Classicline (com a diferença do áudio também em português).
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com