Sempre Belo!

Sempre bela aprofunda A bela da tarde, seguramente um dos mais superficiais (conquanto enfeitiçadores) filmes do genial cineasta espanhol

18/07/2018 15:13 Por Eron Duarte Fagundes
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O reencontro entre Séverine e Henri Husson, os amigos burgueses de A bela da tarde (1967), do espanhol Luis Buñuel, é promovido pelo realizador português Manoel de Oliveira em Sempre bela (Belle toujours; 2006). Mas Oliveira não refaz nem copia Buñuel, embora a dedicatória inicial ao cineasta espanhol e ao roteirista francês Jean-Claude Carrière descortinem a admiração de Oliveira pelo filme  clássico sobre o qual vai debruçar-se. No entanto, pode-se dizer, Oliveira faz uma espécie de crítica cinematográfica em imagens de A bela da tarde; sempre profundamente belo em seus postulados fílmicos, o diretor luso examina o que chegou até nós de Séverine quarenta anos depois dos tempos em que ela, casada, se prostituía às tardes incentivada por seu amigo Husson; este, agora, quer provocar Séverine a recondicionar-se ao passado, embora ela inste que já é outra mulher. No lugar da sensualidade irônica e brincalhona de Buñuel, Oliveira deposita a força de seu cerebralismo lusitano, algo que explica as dificuldades que seus filmes habitualmente topam de chegar aos cinemas brasileiros, pois a mais atroz das censuras é a que se exerce sobre a inteligência das pessoas (outra vítima desta categoria censória, que é uma espécie de elogio da burrice, é o filme À prova de morte, 2007, do americano Quentin Tarantino, chegado com atraso entre nós).

No início de Sempre bela, num refinadíssimo teatro, o sinuoso Henri (ainda e sempre vivido pelo francês Michel Piccoli) espreita a presença, na plateia, duma madurona Séverine (agora interpretada por Bulle Ogier, pois Catherine Deneuve se negou a recompor um de seus papéis básicos no cinema para Oliveira). Depois, num bar, sob o olhar de algumas prostitutas, Henri conta a um garçom a história de Séverine. E enfim o reencontro: Séverine e Husson sentam-se para jantar, com todo o requinte dos bons modos franceses, o rigor dos quadros de Oliveira, a composição dos cenários, os gestos muito medidos, a alternância entre ruídos e silêncios em cena, até que a explosão de Séverine, provocada pela ambiguidade de Henri, destroça o andamento tranquilo da sequência. Quando Henri se retira, os garçons passam a recolher os despojos de cenários, assim como Oliveira fez ao longo de seu filme com A bela da tarde: um inventário do universo de Luis Buñuel, mas sem subserviência, propondo uma análise crítica, agindo provocativamente como Henri relativamente a Séverine.

Sempre bela aprofunda A bela da tarde, seguramente um dos mais superficiais (conquanto enfeitiçadores) filmes do genial cineasta espanhol.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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