COADJUVANDO: Thelma Ritter

Até hoje o público se lembra dela com carinho e se identifica com seus personagens, sempre um pouco azeda, mal humorada, mas sempre de bom coração

23/07/2014 18:19 Por Rubens Ewald Filho
COADJUVANDO: Thelma Ritter

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Thelma Ritter (1902-1969)

 

Quando se fala em estrela de cinema se pensa logo em mulheres bonitas, glamorosas, deslumbrantes. Mas nem sempre. O público com frequência simpatizava com pessoas que tinham uma cara comum. Eram gente como a gente, ainda mais se fossem também muito engraçadas. É o caso de Thelma Ritter, uma das grandes injustiçadas do Oscar®, indicada cinco vezes - sempre como coadjuvante - nunca saiu vencedora. Em compensação ganhou o Tony da Broadway pela peça New Girl in Town, 58, empatada com a co-estrela Gwen Verdon. Mas até hoje o público se lembra dela com carinho e se identifica com seus personagens, sempre com um sotaque de nova-iorquina do Brooklyn, sempre um pouco azeda, mal humorada, mas sempre de bom coração. Como em A Modelo e a Casamenteira, ao lado de Jeanne Crain, onde ela fazia tudo para arranjar um casamento para Jeanne, mesmo contra a vontade dela. 

Mas Thelma teve uma carreira muito particular. Nascida em 2 de fevereiro de 1902, em Nova York, trabalhou em rádio mas  só foi estrear no cinema quando já tinha quarenta e dois anos e assim mesmo como favor a um amigo o diretor George Seaton. Casada com um ex-ator Joseph Moran, que virou vice presidente da agencia de publicidade Young e Rubican, ela fez uma ponta quase como um hobby, ela era uma dona de casa que brigava com o Papai Noel em De Ilusão Também se Vive. O filme acabou se tornando um clássico e o diretor da Fox Darryl Zanuck resolveu lhe oferecer um contrato. Thelma não era versátil, sempre representava variações de si mesma. Mas o público achava isso o máximo. Eu também que ate hoje morro de rir com ela, mesmo quando interpretava uma figura do submundo como em O Anjo do Mal, de Samuel Fuller.

Em geral, ele era amiga ou empregada de alguma mulher, como Bette Davis em A Malvada, ou a inesquecível conselheira bêbada de Doris Day em Confidencias a Meia-noite. Mas esse parceiro podia ser também um homem em perigo, como James Stewart em Janela Indiscreta. Às vezes Thelma até fazia o papel central como em O Quarto Mandamento, em que ela faz a mãe de um homem casado com Gene Tierney, que com vergonha dela, a faz passar por empregada.

A verdade é que Thelma quase sempre roubava os filmes, e mesmo que fosse com gente importante como Fred Astaire em Papai Pernilongo, Debbie Reynolds em A Conquista do Oeste, até Marilyn Monroe em Os Desajustados. Até o dia em que cansada de não ganhar nunca o Oscar®, Thelma resolveu se aposentar. Voltou para nova York e ficou por lá com o marido até a morte em 1969 aos sessenta e quatro anos. Ela sabia que já tinha lugar assegurado como uma das mais queridas atrizes características do cinema.

Filmografia:

1947- De Ilusão também se Vive (Miracle on 34th Street, sem crédito) 1948- Sublime Devoção (Carl Northside 777, de Henry Hathaway. Sem crédito). 1949- Quem é o Infiel? (A Letter to three Wives, de Joseph L. Mankiewicz. Sem crédito), Almas Abandonadas (City Across the River, de Maxwell Shane), Papai foi um Craque (Father was a Fullback de John. M Stahl) 1950- Duas Almas, Dois Destinos (Perfect Strangers, de Bretaigne Windust), De Corpo e Alma (I´ll Get By, de Richard Sale), A Malvada (All About Eve, de Joseph L. Mankiewicz) 1951- O Quarto Mandamento (The Mating Season, de Mitchell Leisen), Sempre Jovem (As Young as You Feel, de Harmon Jones), A Modelo e a Casamenteira (The Model and the Marriage Broker, de George Cukor) 1952- Meu Coração Canta (With a Song in my Heart, de Walter Lang) 1953- Náufragos do Titanic (Titanic, de Jean Negulesco), Anjo do Mal (Pickup on South Street, de Samuel Fuller), A  Vida é uma Canção (The Farmer Takes a Wife, de Henry Levin) 1954- Janela Indiscreta (Rear Window, de Hitchcock) 1955- Papai Pernilongo (Daddy Long-Legs, de Jean Negulesco), Lucy Galante (Lucy Gallant, de Robert Parrish) 1956- O Fruto do Pecado (The Proud and the Profane, de George Seaton) 1959- Os Viúvos Também Sonham (A Hole in the Head, de Frank Capra), Confidencias a Meia Noite (Pillow Talk, de Michael Gordon) 1961- Os Desajustados (The Misfits, de John Huston), Furacão de Saias (The Second Time Around, de Vincent Sherman) 1962- O Homem de Alcatraz (The Birdman of Alcatraz, de John Frankenheimer) 1962- A Conquista do Oeste (How the West Was Won, de Henry Hathaway) 1963- Por Amor ou Por Dinheiro (For Love or Money, de Michael Gordon), Amor Daquele Jeito (A New Kind of Love, de Melville Shavelson), Eu, Ela e  a Outra (Move Over, Darling, de Michael Gordon). 1965- Boeing Boeing (Idem, de John Rich) 1967- O Incidente (The Incident, de Larry Peerce)1968- À Caça de um Clandestino (What´s so Good About Feeling Bad, de George Seaton).

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro, é também o crítico de cinema do portal R7. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde está atualmente com o programa TNT+Filme e onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de ?Éramos Seis? de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o ?Dicionário de Cineastas?, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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