Frozen II
Os personagens confrontam suas perdas e dores do passado a medida que enfrentam novos desafios
Uma sequência para o mega sucesso de “Frozen” (2013) já vem sendo aguardado há muito tempo. O primeiro trailer-teaser divulgado em 13 de fevereiro teve 116.400.000 visualizações nas primeiras 24 horas, um recorde para um filme de animação. Lembrando que a bilheteria internacional do primeiro filme foi de US$ 1.274.219.009, de acordo com o site “box office mojo”. Depois veio o curta “Frozen: Febre Congelante”, lançado em 2015, que serviu como um mero aperitivo, bem como alimentou as especulações de como a história seria continuada. O fato é que a Rainha Elza realizou um feito que suas predecessoras não conseguiram, ter uma princesa como protagonista de uma continuação lançada em tela grande, se tornando a 61º produção do estúdio.
Três anos depois dos eventos do filme original, Elza e Anna decidem embarcar em uma viagem para descobrir a origem dos poderes de Elza e desvendar o mistério do desaparecimento de seus pais. Acompanhando as irmãs de Arendele estão Kristoff, a rena Sven e o boneco de neve falante Olaf, que graças ao poder da magia mantem sua forma física permanentemente, não importando se é ou não um inverno congelante. Para quem gostou do primeiro filme está tudo lá, belas canções, a união entre duas irmãs enfrentando adversidades e o espírito edificante nas falas. Quando, após um breve flashback inicial, reencontramos os personagens, estes se encontram no mesmo ponto do final do filme original, mas Elsa ouve um chamado misterioso que a levará a confrontar verdades que desconhece. Quando Anna diz a Olaf que algumas coisas mudam, outras são para sempre, temos a certeza de que essas verdades, no roteiro de Jennifer Lee, trarão mudanças significativas para todos, muito além da sensação de brincar na neve ou de ver uma porta abrir. Essa jornada de descoberta traz novas canções para transmitir esse sentimento de mudança, não de envelhecimento, mas de amadurecimento, como a ótima “Into the Unknown”, ouvida aos 18 minutos iniciais que servem de prólogo para a aventura, e que para muitos lembrará a rainha da neve cantando “Let it go”. Kristoff tem seu momento quando canta “Lost in the Woods” com direito a uma referência visual da banda Queen. Mas quem rouba a cena é Olaf que, além de alívio cômico, tem seu momento de importância para a fluidez da narrativa ao resumir os eventos pregressos para o povo da floresta.
A história contada por Lee, com contribuição de Marc Smith, Chris Buck, Kristen-Anderson Lopez e Robert Lopez, consegue encontrar uma justificativa para a sequência, enriquecendo a história que se conhece e fazendo uma respeitável adaptação da história original saída do livro “The Snow Queen” do escritor dinamarquês Hans Christian Anderson (1805-1875), publicado originalmente em 1844, e que recentemente geraram as animações russas “O Reino Gelado” (2012) e “O Reino Gelado 2” (2014).
Os personagens confrontam suas perdas e dores do passado à medida que enfrentam novos desafios como gigantes de pedra, uma salamandra de fogo e um cavalo aquático. Este último baseado em uma figura da mitologia céltica, e que ganha impressionante realismo graças ao avanço da tecnologia digital. Elza luta com as ondas gigantes com a determinação de uma super-heroína, e assim endossa o porquê de ser uma personagem tão fascinante, em sintonia com os novos tempos. Elza não precisa estar conectada a um par romântico, seja homem ou mulher, para conquistar o respeito de ser uma líder, uma rainha, quase uma super-heroína que enfrenta o perigo com coragem, não por causa de seu extraordinário poder, mas independente deste. Esse triunfo do espírito sobre as adversidades também está presente na jornada de Anna que, mesmo sendo mais jovem, compartilha da mesma bravura, para encarar seu destino final, salvar Elsa e Arendele.
Longe de dizer se a sequência é melhor ou pior que o primeiro filme; ou de imaginar se “Frozen 2” repetirá o feito nas premiações da Academia, quando o filme original conquistou o Oscar de melhor animação e o Oscar de melhor canção, podemos certamente dizer que o filme é um começo muito bom para os lançamentos de início de ano. Será divertido descobrir, ainda que, embora nada seja eterno, como a mensagem do filme, a magia se fará presente, para cantarmos juntos, crianças e adultos, e que estamos ainda livres para brincar na neve, mesmo que em nossa imaginação apenas.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com