EM DVD: Salo, ou Os 120 dias de Sodoma?
Em 1944, na Republica de Salo, no norte da Italia, um grupo de fascistas sequestra 16 jovens e aprisiona-os num castelo. L?, por 120 dias, as vitimas serao alvo de torturas e violencia sexual
Salò (ou Os 120 dias de Sodoma) (Salò o le 120 giornate di Sodoma). Itália/França, 1975, 117 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Pier Paolo Pasolini. Distribuição: Obras-primas do cinema
Uma das obras mais cruéis e contraditórias do cinema, filme derradeiro de Pier Paolo Pasolini, assassinado no final das gravações em 1975. Indigesto, com imagens fortes e ousadas, veio na fase desregrada e de contestações política e social do cineasta italiano que fez “Mamma Roma” (1962), “Édipo rei” (1967), “Teorema” (1968), “Decameron” (1971) e outros filmes marcantes. Pasolini escreveu o roteiro ao lado de Sergio Citti e Pupi Avati adaptando-o do romance “Os 120 dias de Sodoma” (ou “A escola da libertinagem”, de 1785), do polêmico escritor Marquês de Sade (1740-1814), que viveu no período ferrenho do Absolutismo pouco antes da Revolução Francesa (que viu acontecer). Pasolini transpôs o pano de fundo das orgias da França libertina para a Itália fascista, mais precisamente na republiqueta de Salò, no norte do país. Dividiu o filme em capítulos com estrutura semelhante a “O inferno”, de Dante Aligheri, em ciclos que ficam mais pesados a cada passagem. Na trama, fascistas prendem adolescentes num castelo por 120 dias e lá praticam violência sexual, tortura, sodomização e assassinatos dos mais perversos, com a ajuda de mulheres e homens da sociedade. Pasolini, sem meios termos, criticou aqui ferrenhamente as atrocidades do fascismo italiano que devastou a Europa ao lado do Nazismo nos anos 30 e 40.
Recebeu censura de 18 anos, foi proibido em vários países (no Brasil não chegou a ser exibido, estávamos na ditadura) e unanimemente a crítica rotulava de “depravado”, “repulsivo”, “chocante” (o filme continua forte e toca em questões atuais, mas veja com cuidado!).
Vintes dias antes da estreia no festival de Paris, Pasolini foi encontrado morto na praia de Ostia, perto de Roma, em 2 de novembro de 1975 – quem foi preso e acusado foi um garoto de programa. O crime nunca ficou esclarecido.
Um destaque vai para a parte técnica: os maiores nomes da Itália da época se envolveram no projeto: Alberto Grimaldi assina a produção, Dante Ferretti o design de produção, fotografia de Tonino Delli Colli, figurinos de Danilo Donati e trilha sonora com participação de Ennio Morricone.
Ganhou há poucos meses edição nova, com luva, em disco duplo e duas horas de extras, com metragem original, de 117 min, pela Obras-primas do cinema. Já existia no mercado uma versão antiga, de revista, de mesma metragem, porém com imagem inferior, da extinta Wave Filmes.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com