Colecao Tentaculos em DVD pela Classicline
Veja os detalhes destes filmes lancados em DVD, leia se vale ter em casa
Tentáculos (1977)
Em um balneário em Ocean Beach, pessoas aparecem mortas de forma enigmática. A guarda costeira inicia uma inspeção nas águas do mar e se depara com um enorme polvo sanguinário.
Cineastas do mundo inteiro já produziram filmes com animais assassinos. Já vimos cachorro, gato, leão, rãs, pássaros, coelhos e até vermes caçando gente. Nas águas, “Tubarão” (1975), de Steven Spielberg, “Orca, a baleia assassina” (1977), de Michael Anderson, e “Piranha” (1978), de Joe Dante, marcaram época com predadores de dentes afiados que buscavam proteger seu habitat e por vezes se vingar da interferência humana. “Tentáculos” (1977) veio nessa onda de filmes, uma produção italiana (o título original era “Tentacoli”), em parceria com a American Internacional Pictures (AIP) de Samuel Z. Arkoff, lendário produtor de filmes de suspense e terror como “Terror em Amityville” (1979) e “Vestida para matar” (1980). Foi rodado em grande parte na Califórnia, com orçamento caro para a época, U$ 5 milhões - mais para pagar o cachê de astros que desfilaram em pontinhas, um chamariz para o público, dentre eles Shelley Winters, John Huston, Henry Fonda, Claude Akins e Bo Hopkins, do que para gastar com efeitos especiais, até porque não há efeitos grandiosos no filme. O custo técnico mais alto envolveu a construção de uma réplica de um polvo gigante, no valor de U$ 1 milhão, que acabou afundando nas águas no primeiro dia de gravação! E o polvo mostrado na quase totalidade do filme era um molusco de verdade, gravado em aquário e perto de recifes, e o aproximá-lo da câmera, ele parecia enorme e feio – esses eram os truques de filmagem que fizeram do cinema a indústria da magia e dos sonhos!
A história é bem fraquinha, não dá medo, tem muitos erros de continuidade, mas é nostálgica e marcou o gosto do público que segue terror: um gigante polvo mutante ataca uma cidade costeira na Califórnia, e a população se une à guarda costeira para se salvar. Nas entrelinhas, há uma referência (e crítica) à interferência humana no meio ambiente causando poluição e destruição: aqui, uma empreiteira constrói um duto subaquático, gerando lixo químico, que contamina um polvo; este sofre mudanças genéticas e vira um monstro assassino.
O filme investe em longas cenas debaixo d’água, e nos momentos de suspense, a boa trilha sonora sobe o tom - Stelvio Cipriani compôs e assinou como S.W. Cipriani reaproveitando a trilha que fez para o filme de ação italiano “Resgate”, de 1973.
O produtor de cinema Ovidio G. Assonitis, egípcio de nascença, assina a produção ao lado de Arkoff e também dirige o filme – ele fez duas fitas de terror, “Espírito maligno” (1974) e “A casa da escuridão” (1981), e codirigiu “Piranhas 2: Assassinas voadoras” (1981 – seu nome não foi creditado, apenas James Cameron, estreante no cinema).
“Tentáculos” saiu num box especial em DVD duplo pela Classicline com a versão de cinema, de 102 minutos, em boa cópia. Também está presente na caixa o “Tentáculos” de 1998, uma espécie de refilmagem, mas com outra história, com mais ação e terror.
Tentáculos (Tentacoli/ Tentacles). Itália, 1977, 102 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Ovidio G. Assonitis. Distribuição: Classicline
Tentáculos (1998)
Um luxuoso transatlântico inaugura seu primeiro cruzeiro levando a bordo centenas de pessoas. No meio do trajeto, bandidos invadem o navio em alto-mar para roubar joias e dinheiro. O grupo percebe que estranhamente o barco está vazio, ninguém nos quartos, nos salões ou nos corredores. As pessoas foram devoradas por um polvo monstruoso que invadiu o transatlântico, e ele agora irá caçar os criminosos um a um.
Mais movimentado e divertido, com mais cenas do polvo mutante e mortes sangrentas, “Tentáculos”, de 1998, seria uma refilmagem do filme de 1977, porém com outra trama, aproveitando apenas a criatura marinha (que aqui é maior, um verdadeiro monstro gigante, com inúmeras garras e que mata pra valer). O roteiro modificado e ainda mais nonsense é de Stephen Sommers, que dirige o filme também. Ele até mudou o título de “Tentacoli/Tentacles” para “Deep rising” para um tom mais autoral e independente. Criou uma trama de assalto em alto-mar, sem a presença de mocinhos, em que os bandidos lideram um plano criminoso e acabam alvo de algo impensável, um polvo mutante que se alimenta de gente – o filme começa com ação e vai aos poucos se transformando em terror com ficção científica.
Sommers realizou antes “O livro da selva” (1994) e depois faria blockbusters como “A múmia” (1999) e a continuação, “O retorno da múmia” (2001), bem como os horríveis “Van Helsing: O caçador de monstros” (2004) e “G.I. Joe: A origem de Cobra” (2009), ambos vencedores de prêmios de piores produções (tanto o Razzie quanto o Stinkers Bad Movie), e por fim, em 2013, faria seu melhor trabalho (ao lado de “Tentáculos”), “O estranho Thomas”, uma fita bem moderna de terror com ação, que ninguém viu e virou cult. “Tentáculos” também virou cult com o tempo: custou caro (U$ 45 milhões), fracassou nos cinemas, rendendo somente U$ 11 mi, e se popularizou em VHS no fim dos anos de 1990 (lembro que na época foi difícil locá-lo, pois muita gente queria assistir).
Escalaram nomes conhecidos como Treat Williams e Anthony Heald, e novos rostos em ascensão, Famke Janssen (que ganhou destaque três anos antes em “007 contra GoldenEye”), Kevin J. O’Connor, Djimon Hounsou (depois seria indicado a dois Oscars), Cliff Curtis e Jason Flemyng. Eles se divertem em cena e fazem o filme acontecer com perseguições bem boladas, tiros para todos os lados, invenção de esconderijos e loucas escapadas do monstro. Traz elementos precisos de um bom cinemão, mas para entrar nele temos de perdoar sequências completamente absurdas e canastrões dando cartadas. Ajuda a trilha de Jerry Goldsmith, que de 18 indicações ao Oscar ganhou pela de “A profecia” (1976) – ele foi um mestre, fez maravilhas como “Planeta dos macacos” (1968), “Papillon” (1973) e “Chinatown” (1974).
O filme saiu mês passado num box especial pela Classicline, em disco duplo, juntamente com o “Tentáculos” original, de 1977.
Tentáculos (Deep rising). EUA/Canadá, 1998, 106 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Stephen Sommers. Distribuição: Classicline
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com