RESENHA: A Grande Vitória
Um filme nacional que escapa das fórmulas tradicionais,segundo Rubens Ewald Filho, bem realizado
A Grande Vitória
Brasil, 14. Direção e roteiro de Stefano Capuzzi Lapietra. Com Caio Castro, Sabrina Sato, Tato Gabus Mendes, Suzana Pires, Domingos Montagner, Moacyr Franco, Felipe Folgosi, Tuna Dwek, Felipe Falanga.
É muito difícil o Brasil realizar filmes que escapam das fórmulas tradicionais: a comédia (a chanchada), o filme de favela, o drama rural /social, a biografia de artista pop. Este A Grande Vitória (que já se chamou antes Aprendiz de Samurai) é uma experiência nova em outra possibilidade, um filme sobre campeão esportivo, no caso de um campeão treinador de judô, Max Trombini, baseado em uma biografia de Wagner Hilário.
Não há nenhuma garantia de que o tão arisco público para cinema brasileiro vá assistir o filme, mesmo com o chamariz de jovem astro de televisão que é Caio Castro, meio tosco, baixinho, barbudo, limitado, mas que vem com aquela naturalidade de novela. É uma velha tradição de nosso cinema que nenhum astro de novela leva qualquer um aos cinemas, nem mesmo Antonio Fagundes no apogeu da juventude. Por outro lado, eu que vivo reclamo dos péssimos roteiros não posso me queixar deste que é, aliás como tudo no filme, extremamente correto e profissional. Talvez as crianças no começo sejam meio fracas, e como sempre, não parecem o similar adulto, mas fora isso tudo é bem feito e demonstra que o diretor não faltou demais as aulas da FAAP ou da faculdade americana que cursou.
A história começa com Sabrina Sato na piscina (o que é sempre fotogênico) comunicando ao rapaz que esta grávida, o que pode atrapalhar seus planos de se mudar para os EUA. Volta-se em flash back para a infância dele em Ubatuba, onde são muito pobres e ele é muito briguento em parte porque ressente a ausência de um pai que sumiu. Quem cuida mais dele, é o velho avô (a primeira experiência realmente dramática de Moacyr Franco, que está humano e convincente). Depois é seguir a carreira do moço, que arranja um bom mestre de judô (Tato Gabus Mendes, outro que convence e ajuda muito o filme) e vai para Bastos. O pai é feito por Domingos Montagner, um personagem mal explicado mas que ganha muito com sua figura carismática. Enfim, não chega a ter pretensões a ser um Karate Kid. É apenas uma interessante e bem contada historia real (o protagonista faz um papel no filme e aparece na ceninha final nos letreiros). João Carlos Martins faz a trilha musical (pela primeira vez) embora não tenha visto sua versão final.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.