RESENHA CRTICA: Jogo das Decapitaes
RESENHA CRTICA: Jogo das Decapitaes
Jogo das Decapitações
Brasil, 13. Direção de Sérgio Bianchi. Com Fernando Alves Pinto, Clarisse Abujamra, Silvio Guindane, Maria Manoella, Maria Alice Vergueiro, Sérgio Mamberti, Paulo Cesar Pereio, Renato Borghi, Anna Carbatti, Antonio Petrin, Magali Bif, Camila Bevilacqua, Patricio Bisso.
Mais um filme nacional vítima da atual “síndrome de decapitação” (poderíamos até chamar assim), ou seja, lançar filmes brasileiros nas poucas vagas surgidas com a Copa do Mundo e a vontade de não lançar blockbusters (que perderiam seu poder de bilheteria). O excesso de títulos justamente disputando uns aos outros no pior momento ao menos deste ano para exibir um filme nacional. Isso é triste, mas são as regras do jogo e reclamar não vai mudar coisa alguma. Enquanto isso, este mais recente trabalho do polêmico e brilhante Sergio Bianchi, corre o risco de nem ofender os seus algozes, nem mexer nas feridas, ou sequer atrair os que como eu ainda se divertem e aplaudem sua incansável luta (não perfeita, claro, mas ao menos ainda reclama, denuncia, resmunga, as vezes até xinga). De tal forma, que este talvez seja o filme mais mal formato dele nos últimos anos, episódico , confuso, cheio de ideias interessantes que vão se perdendo pelo caminho. Sem a merecida conclusão.
O fato do próprio Sérgio afirmar que está confuso com o caos atual não ajuda muito o fato de que seu protagonista, Leandro, o normalmente confiável Fernando Alves Pinto, ganhou um personagem confuso, que balança entre diversas posições, que não se resolve como ser humano (deixa-se claro ser homossexual mas não se assume, nem em armário). Sua perplexidade varia entre a figura da mãe – a ótima Clarisse Abujamra, que finalmente parece ter sido descoberta pelo cinema, faz Marília, a mãe dele envolvida em ONGs e Partidos não muito claros, que continua a sustentá-lo enquanto ele tenta fazer seu pós-graduação e entender porque seu pai Jairo, já falecido (Pereio e em fotos mais antigos, o filho dele), chegou a ser preso, passeou por tantas posições, que agora não fazem mais sentido. Só que na verdade Sérgio acena com várias malesas de nosso tempo: assaltos a esmo, justiça pelas próprias mãos, a própria situação da mãe que briga por receber dinheiro por ter sido presa. E assim por diante. Ajudando também num canal de TV (mostrado de forma muito pouco realista) ao menos deixar o amigo negro tentar se exprimir (cabe ao veterano Silvio Guindane, ótimo ator infantil ter sua melhor interpretação dos últimos tempos como o amigo Rafael).
Mesmo o humor constante na obra de Sérgio desta vez fica num segundo plano. A ideia central é a busca de um filme que Jairo teria feito (para isso foi usado um dos primeiros trabalhos do próprio Sérgio, Maldita Coincidência, 79, que dá uma visão interessante da época). Mas mesmo o filme mostrado em parte ao final também não revela nada de novo ou acrescenta aos fatos. Talvez a situação atual esteja realmente tão caótica e confusa que o próprio diretor nem soube rir ou criticá-la com mais sabedoria!
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.