RESENHA CRTICA: Mais Um Ano (Another Year)
Bem sucedido, embora tenha pagado o preo de no agradar os espectadores
Mais Um Ano (Another Year)
Inglaterra, 10. Direção de Mike Leigh. 129 min. Com Jim Broadbent, Ruth Sheen, Lesley Manville, Oliver Maltman, Peter Wright, David Bradley, Imelda Staunton.
Mesmo tendo sido indicado ao Oscar® e BAFTA de melhor roteiro original, British Film Awards de diretor, ator (Broadbent) , atriz (Sheen) e coadjuvante (Manville), European film Awards (Manville, trilha musical), prêmio Ecumênico do Júri em Cannes, melhor filme National Film Board EUA, isso para não ser muito mais adiante, este é dos filmes recentes do diretor Mike Leigh (o que havia ficado inédito) e cujo médio fracasso de bilheteria deve ter atrapalhado de ter voltado apenas agora com a vida do Pintor, Mr. Turner, com Timothy Spall (melhor ator em Cannes).
Serviu também para tornar mais popular a atriz Manville, até então parte do grupo genérico do diretor participando de quase tudo (Topsy Turvy, Segredos e Mentiras, Agora ou Nunca, O Segredo de Vera Drake, Mr. Turner, mas também de Malévola, e ainda mais recentes Molly Moon e Ghosts). Só que o filme não pegou como os outros, talvez por ser mais suave, discreto, não ter muito melodrama (sem falar mal, Mr. Leigh é magnífico do gênero e teria toda a liberdade do gênero). Teria custado dez milhões de libras,e rendido menos que 20 milhões de dólares em todo o mundo (o filme é dedicado ao falecido amigo do diretor, parceiro de produção, Simon Channing Douglas).
Alguns colegas parecem ter a opinião de que o filme pode ser irritante ao se fixar numa personagem sempre alegre, otimista, o que chega a irritar. É boa hipótese que parece confirmar a intenção de Leigh em usar melhor o típico difícil de Manville, simplesmente porque é loira e normal (ela faz uma fadinha no Malévola) e nunca se sobressai do resto do elenco. Seu resultado foi mais do que bem sucedido embora tenha pagado o preço de não agradar os espectadores que às vezes nem tem consciência disso. Ela faz uma secretária divorciada que bebe um pouco demais e frequenta a casa dos melhores amigos (uma psicóloga que vive feliz com o marido engenheiro, o vencedor do Oscar® Broadbent). Leigh que é famoso por ensaiar com seu elenco por semanas, revelando só aos poucos a trama da história, não podia fugir da crítica social, do retrato humano de muitos como nos não somos capazes de nos avaliar e criticar nossos defeitos. O curioso mesmo é que o personagem de gente boa mas um pouco inconveniente de certa maneira custou a ajudar Manville. Rejeitou muito gente. Por isso periga de por aqui também não fazer sucesso de outros trabalhos do diretor.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.