2020 - O Ano Em Que Vivemos Perigosamente

Um resumo do que aconteceu neste ano, um dos mais complicados da historia

28/12/2020 15:27 Por Adilson de Carvalho Santos
2020 - O Ano Em Que Vivemos Perigosamente

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Se voltássemos no tempo há um ano, quem de nós poderia supor o que seria 2020? Um ano difícil em todos os sentidos, e para o cinema não foi diferente. Vários lançamentos transferidos para 2021 ou 2022 quando as salas de exibição fecharam as portas em março quando a pandemia explodiu nos noticiários. Apesar de uma tímida tentativa de voltar a funcionar no segundo semestre, o fato é que os estúdios precisaram reestruturar suas estratégias para fugir do vermelho, principalmente depois da fria recepção ao aguardado “Tenet” de Christopher Nolan. Quem ganhou impulso nessa realidade distópica, que parece saída de um romance de Stephen King, foram os serviços de streaming. A Netflix tem sido como uma janela aberta para os amantes de filmes, com lançamentos dignos de respeito. A Disney + chegou ao país para disputar assinantes com a Netflix e a Amazon Prime Video, sem mencionar que 2021 promete trazer ao Brasil a HBO Max. O ano entrou para a história e alerta o mundo de que precisamos repensar não apenas o modo de assistirmos filmes, mas e ainda muito mais , o modo em que vivemos. Que a esperança Chapliniana em dias melhores possa se manter acesa apesar de todo o cenário caótico que acompanhamos nos noticiários. Vejamos então o que foi de melhor e de pior, seja na telona ou na telinha, ao longo desse ano tão atípico. Fiquem à vontade para concordar ou discordar. Escrevam para o DVDMagazine e digam quais filme você indicaria como melhor ou pior no ano: Jóias Brutas, Rebecca, Tenet, Mulher Maravilha 1984, Parasita ou qualquer um que você incluiria em sua lista.

 

OS MELHORES FILMES

#1. 1917. Sam Mendes deu uma aula de técnica enquanto criava seu retrato realista e emocionante da Primeira Guerra. Despido de ufanismo, e repetindo o feito dos mestres Hitchcock e Welles, usou um plano sequência que nos envolveu completamente na missão de dois soldados (George MacKay & Dean-Charles Chapman) de atravessar a França ocupada para entregar uma mensagem ao batalhão britânico antes que este caia em uma emboscada alemã. Lançado no Brasil em janeiro desse ano, o filme foi indicado e ganhou vários prêmios incluindo o Oscar de melhor fotografia para Roger Deakins. Uma aula de que mesmo uma história já vista mil vezes antes nas telas pode ganhar uma nova abordagem, uma forma diferente de ser contada, e emocionar as plateias.

#2. Jojo Rabbit. Taika Waititi conseguiu um feito e tanto ao falar de assuntos como nazismo, juventude hitlerista e ódio racial com um humor certeiro. Scarlett Johanson, em um papel coadjuvante, arranca lágrimas no papel de mãe de um menino que fez do Fuhrer seu amigo invisível. Complicações surgem quando o pequeno Jojo (Roman Griffith Davis) descobre que sua mãe é uma ativista anti-nazista e esconde uma menina judia (Thomasin McKenzie) em seu sótão. Elenco muito bem entrosado em uma história tocante que, para mim em particular, me lembrou muito “O Grande Ditador” de Chaplin. Oscar de melhor roteiro adaptado e muitas outras honrarias fazem deste um filme interessantíssimo.

#3. O Homem Invisível. Depois do fiasco de “A Múmia” em 2017, que iniciaria um universo compartilhado com os monstros clássico do horror, a Universal conseguiu um resultado positivo com a adaptação do livro de H.G.Wells. Graças ao talento do diretor e roteirista Leigh Whannel que soube fazer ecoar na história os gritos de protesto do movimento “me too”, falando de uma relação abusiva em tom de denúncia e dando à excelente Elizabeth Moss (The Handmaid’s tale) o protagonismo invertendo o foco do monstro para a vítima que se defende e não aceita ser passiva aos desejos do vilão. Ponto para a produção em conjunto com a Blumhouse Productions que vem se destacando como a nova casa do gênero.

#4. Enola Holmes. A Netflix conseguiu instigar todos seus assinantes com uma personagem nova, saída do romance infanto-juvenil de Nancy Springer. Provando que o personagem de Sherlock Holmes sempre gera histórias interessantes mesmo quando não saídas da mente de seu criador, Sir Arthur Conan Doyle. Millie Bobby Brown mostrou seu talento muito além de Stranger Things, dialogou com a câmera, quebrando a quarta parede, e nos tornando seu cúmplice, curtindo adoidado seus passos a medida que investiga o desaparecimento de sua mãe e ajuda um jovem nobre que corre risco de vida. E mais, deixando todos com água na boca para outras aventuras.

#5. Mank. Novamente a Netflix, desta vez em um projeto audacioso, mostrar os bastidores da realização do clássico “Cidadão Kane”, tirando o foco do mítico Orson Welles, e mostrando a importância de seu roteirista, Herman Mankiewics, vivido magistralmente por Gary Oldman. A fotografia em preto e branco de Erik Messerschmidt recria a Hollywood do final dos anos 30. David Fincher não glamoriza, mas desnuda a meca do cinema e aqueles que vivem nela. Amanda Seyfried, ao lado de Oldman, mostram química e brilho próprio, mesmo que o filme de David Fincher acabe em alguns momentos no lugar comum dos filmes do gênero.

 

DECEPÇÕES DO ANO

 

#1. ARTEMIS FOWL. Se a intenção eracriar um universo mágicotão envolvente quando o mundo de Harry Potter, ficou na intenção. A direção de Kenneth Branagah não se ajusta muito ao gênero fantasia, deixando o filme com a sensação de lacunas que em momento algum ganham uma forma ou identidade própria.

 #2. AMIZADE MALDITA. Poderia ter sido um bom filme de terror se o roteiro seguisse um mínimo de lógica. Há momentos em que não se decide de o caminho é um suspense psicológico ou sobrenatural. Misturando ambos, o resultado é fraco, uma clara preocupação em gerar sustos fáceis sem explorar os personagens ou criar interesse pelo monstro. Este nunca ganha um contorno crível, que se relacione com os personagens ou com nosso próprio medo. Clichê após clichê não justifica sua projeção curta de 1h23min. Este foi um péssimo recomeço na reabertura dos cinemas.

 #3. OS NOVOS MUTANTES. Adiado várias vezes desde que a Disney adquiriu a Fox, o último filme mutante antes do anunciado reboot resultou em um filme fraco. Mesmo tentando emular “O Clube dos Cinco” e procurando adaptar o material das hqs de Chris Claremont e Bill Sienkiewics, o filme não imprime na tela o efeito pretendido de “casa mal-assombrada”. O roteiro tenta, mas não cumpre o que o diretor e roteirista Josh Boone promete. Mesmo com um elenco jovem talentoso.

 #4. MENTIRAS PERIGOSAS. Tentou-se realizar um suspense hithcockiano; mas apesar da premissa inicial boa, o filme força a barra para uma conclusão surpreendente que, na verdade, não provoca o efeito desejado. Camila Mendes (estrela de “Riverdale”) se esforça no papel de uma jovem que recebe uma inesperada herança que disfarça um crime. Mesmo a presença do veterano Elliot Gould, não garante um resultado melhor. Tudo bem burocrático, mas sem alma seja na tentativa de emular os melhores do gênero ou de homenagear.

#5. O GRITO. A refilmagem do terror que fez do rancor um monstro sobrenatural que se alastra sem freio era totalmente desnecessária. Hollywood muitas vezes prefere reciclar ideias velhas com a desculpa de apresentar a história para uma nova geração. O diretor e roteirista Nicolas Pesce apenas provou que a única maldição relativa aos filmes do gênero é que uma refilmagem sem uma justificativa melhor só leva a um filme desastroso e esquecível, como tantos. Pesce ainda tentou fragmentar a história com vários personagens conectados à maldição de uma casa mal assombrada, mas nada que torne sua ideia mais interessante.

 

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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