As Coisas No Mudam Muito

Com sede no Armazm da Utopia, o Armazm 6, no Cais do Porto, o Festival de Cinema do Rio 2014 trouxe mais de trezentos filmes para a disposi艫o dos cinemanacos cariocas e de outras plagas que aportassem ali

07/10/2014 14:16 Por Eron Duarte Fagundes
As Coisas N達o Mudam Muito

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RIO, 29.09.14, segunda-feira

Jimmy’s Hall (Jimmy’s Hall; 2014), o mais recente filme do inglês Ken Loach, não ganhou o principal prêmio do Festival de Cannes, onde concorreu, mas é tudo o que se pode esperar do melhor de Loach. Tem cuidados plásticos arrebatadores, desde a transcendência de cores de sua fotografia até a manipulação dos elementos cênicos (paisagem, objetos, atores) por Loach. E esta beleza plástica, como sempre no universo do realizador, serve a propósitos libertários e humanistas que Loach vai constantemente reiterando e depurando.

De que fala Loach em seu novo trabalho? Da ousadia jovem e das necessidades de mudança na sociedade; mas também sobre como, debaixo das aparências em ebulição, o conservadorismo viceja e as coisas não mudam tanto quanto deveriam. Jimmy, o protagonista de Loach, foi um jovem impetuoso nos anos 20, no interiorzão da Irlanda, que tentou criar um salão de dança para animar a juventude que lhe era contemporânea e acabou tendo de fechar em face dos murmúrios moralistas, liderados pela Igreja; Jimmy atravessou o Atlântico e foi respirar sua liberdade nas metrópoles norte-americanas. Quando Jimmy’s Hall começa, este tempo está no passado e Jimmy está tornando a seu torrão, atendendo a um chamado de sua velha mãe; passaram-se dez anos desde os episódios do salão de baile, referidos aqui e ali na narrativa, e Jimmy, encanecido, é procurado pelos novos jovens para que reabra o salão e dê a eles, rapazes e moças, a vida que lhes falta na comunidade rural marcada por arcaísmos e religiosidade não muito compatíveis com a mocidade. Jimmy, que recua inicialmente temeroso de que o passado volte nas mesmas formas, acaba enfim atendendo-os e recomeça, com o salão de baile. E novamente, apesar dos dez anos à distância, as forças conservadoras se põem em marcha. A violência do choque é descrita em cores vivas por Loach. E, melancolia das melancolias, revelando que numa década não mudou muita coisa no meio rural de onde Jimmy emergiu para o mundo: novamente Jimmy é forçado a emigrar para os Estados Unidos. Agora a força que o empurra para fora é mais brutal: deportam-no. Jimmy é então extraído de sua mãe, de seu amor, de seus amigos, dos cenários onde aprendeu a amar o mundo; Jimmy é transformado num estrangeiro em sua própria terra. Num certo sentido, Jimmy é a personagem de Loach para estabelecer os signos desta época de falsas mudanças e retrocessos insistentes.

Provavelmente um dos principais filmes vistos no Festival de Cinema do Rio 2014, Jimmy’s Hall repõe na ordem do dia a excelência formal e crítica de um dos grandes diretores de cinema de hoje, o inglês Ken Loach.

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a dcada de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publica苺es de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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