O Fato No Um Fato; Nota Para Uma Teoria da Relatividade da Objetividade

Muniz Sodr, desde o ttulo de seu livro, A narrao do fato (2009), lembra que o fato uma narrao. Conhea mais detalhes!

25/05/2013 02:06 Por Eron Fagundes
O Fato Não É Um Fato; Nota Para Uma Teoria da Relatividade da Objetividade

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Muniz Sodré, desde o título de seu livro, A narração do fato (2009), lembra que o fato é uma narração. Ou seja: não há o fato em si. Narra-se o fato. Apreende-se o fato. O fato é mítico em Heródoto. E converte-se em ideológico em Marx. Apanhado assim em suas  anotações iniciais, o ensaio de Sodré vai lentamente aproximando a produção jornalística da produção da literatura de ficção, pois ambas são a invenção (ou reinvenção) da ordem das coisas com a utilização das palavras; assim, Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, projetado inicialmente como uma série de reportagens que se valia do cientificismo de sua época, se transforma com o passar das décadas numa espécie de estatuto literário, tão lírico e pessoal quanto uma poesia de Carlos Drummond de Andrade; e os esforços de Carlos Heitor Cony, jornalista e romancista, para diferenciar sua produção jornalística de sua produção literária são inúteis diante da crônica sentimental sobre sua cadela de estimação (que Muniz eleva às alturas de um panteão entre nós); para além desta apreciação, o que importa é que, aduzindo uma circunstância real (Cony e sua cadela), o texto se comporta como um conto, um gênero literário, mesmo que insta em ocultar estas intenções.

Mais adiante, ao questionar as possíveis distâncias entre a literatura problemática e filosófica (Dostoievski) e os livros policiais de entretenimento (James Ellroy), Sodré parece estar investindo na essência do pensamento de A narração do fato: o que é sofisticação? O que é popular? Ao reflexionar sobre o jornalismo um pouco como uma antessala da literatura, é nestas fronteiras que Sodré habita. No fundo, conclui ele, “os diferentes patamares assumidos pela ficção narrativa compõem, no fundo, a arquitetura de um mesmo edifício.” E, meditamos aqui, o que talvez se esqueça é que toda arte (a literatura, entre elas) é entretenimento; e cada um se diverte como pode: uns com André Gide (ele ainda tem leitores, acreditem: estes dias descobri que o cronista caxiense Gilmar Marcílio —um bom exemplo do jornalismo à beira, ou dentro, da literatura— lê Gide, e o ama), outros com Harry Potter.

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a dcada de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicaes de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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