O conceito do multiverso, extraído da teoria da relatividade do físico Albert Einstein, é um modismo cinematográfico pop atual, nas histórias-em-quadrinhos filmadas pela Marvel, com as personagens clássicas do espetáculo de diversão, o homem-aranha e o Doutor Estranho. Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Everything everywhere all at once; 2022), dirigido por Dan Kwan e Daniel Scheinert (tidos por “os Daniels”), aproveita o gancho comercial para fazer um filme que, sem abdicar dos tiques industriais do cinema, se esforça por propor uma narrativa que em boa parte de sua construção fuja aos aspectos convencionais duma produção endereçada ao público majoritário. Naturalmente, o espectador de sempre deve aborrecer-se com estas formas difusas em que as personagens se movimentam; os analistas se dividem: uns exaltam a alternativa de um multiverso louco às simplificações dos produtos da Marvel. Mas ocorre que Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo não logra escapar às armadilhas do espetáculo de ação, que se detém em gestos e circunstâncias artificiais do ato de filmar.

Feito duma montagem trepidante ancorada em planos curtos (Babilônia, 2022, de Damien Chezelle, também se vale deste recurso, mas a dinâmica interna e de estética psicológica é outra), Tudo em todo lugar ao mesmo tempo castiga o tempo todo o olhar do espectador. Não que isto seja um fato incaracterístico mas está longe de dar ao filme a estatura inovadora a que aspira. Trata-se tão-somente dum exemplar da trivialidade dos novos tempos no cinema.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)