RESENHA CRTICA: Silncio (Silence)
fraco como aventura, inconsistente como pico e decepcionante como cinema
Silêncio (Silence)
EUA, 17. 2h41 min. Direção de Martin Sscorsee, baseada em livro de Shusaky Endo (1923-96). Com Liam Neeson, Andrew Grafield, Adam Driver, Tadanau Asano, Ciaran Hinds, Issil Ogata, Yohsi Oide. Design de Produção de Dan Ferreti. Montagem de Thelma Schoonmaker. Música de Kathryn e Kim Allen Young. Fotografia de Rodrigo Prieto.
É curioso como o diretor que nós temos o hábito de considerar o que é o melhor professor, brilha como crítico e é considerado um mestre do cinema, Martin Scorsese está tendo um ano difícil e recebendo criticas negativas. Estamos falando justamente de Vynil que teve um fracasso monumental no canal HBO quando apresentou e dirigiu o filme piloto da série que foi tão mal recebida que a cancelaram imediatamente e virou sinônimo de unanimidade. E agora chega este seu novo filme que também tem sido muito mal recebido e, apesar do prestígio, não foi indicado para qualquer prêmio especial, nem Globo de Ouro. Mas teve a estranha indicação de fotografia para o latino Rodrigo Prieto, embora não tenha levado nada. E foi chamado por muitos como seu pior trabalho. Ou ao menos o mais difícil e menos bem realizado. Não se esqueçam nunca que ele também fez um filme católico absurdamente perseguido que foi A Última Tentação de Cristo.
Não estou exagerando porque de certa forma a gente tenta sempre salvar a quem admira. Scorsese sempre admitiu que era admirador do budismo e chegou a fazer um longa sobre o Tibet e seus problemas chamado Kundum, quando o budismo passou a ser perseguido e o Dalai Lama também foi perseguido. Admite também aqui, de certa forma, onde ele reúne as duas religiões numa situação real, ter sido católico quando jovem e morava no bairro Little Italy, junto com os gangsters. Sua segunda especialidade. Tanto que já está em pré produção de um policial chamado O Irlandês (The Irishman) e que deve ser estrelado por Robert de Niro, Joe Pesci, Harvey Keitel, Al Pacino e Bobby Cannavale de Vynil.
Este livro que foi também filmado anteriormente no Japão como Chimmoku, em 71, é inspirado em fato real que houve realmente, mas não com portuguêses como se mostra aqui, mas italianos, como Giuseppe Cara, que virou Sebastian Rodrigo. Rodado em sua maior parte na costa da China/ilha de Formosa. Daniel Day Lewis ia fazer o papel central que acabou nas mãos de Liam Neeson, que é um famoso padre que foi para a China no século 18. Muitos padres católicos fizeram isso tentando catequizar os japoneses, mas estes ao poucos foram reagindo à favor dos budistas, provocando perseguições e mortes, tanto de padres quanto do povo local. São porém dois padres jovens que não se conformam em deixar o ídolo deles sozinho e convencem o líder que devem ir para o Japão.
No momento em que são deixados em região muito pobre, eles sofrem muito, não encontram o padre, mas são adotados pelos que se acreditam católicos, querem confessar, querem ir para o Paraíso. A situação vai ficando cada vez mais difícil quando veem a ser presos e principalmente Garfield, que já foi Homem Aranha, começa a sofrer muito vendo que os religiosos budistas estão dispostos a converte-lo a qualquer custo.
Uma história dessas poderia ser muito dramática, mas Scorsese parece estar querendo punir o espectador realizando um filme duro, pesado, que apesar do crédito mal tem trilha musical, parece ter sido feito em cores tão esparsas que parece preto e branco e, na verdade, acredita-se mais nos atores orientais do que no trio central (por que Liam reaparece e a história muda completamente e Scorsese não sabe bem a que lado tomar... Talvez porque, como conta Neeson, ele exige silêncio absoluto no set de filmagem).
O final mesmo com certa complexidade, porém, não sei se ira agradar aos crentes de ambas religiões. Porque é fraco como aventura, inconsistente como épico e decepcionante como cinema.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.