Velozes e Furiosos 8 (The Fate of the Furious)

Nenhum profeta seria capaz de imaginar que duvidoso filme de aventura e perseguição de carros seria capaz de sobreviver tanto tempo e com tanto sucesso

12/04/2017 23:17 Por Rubens Ewald Filho
Velozes e Furiosos 8 (The Fate of the Furious)

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Velozes e Furiosos 8 (The Fate of the Furious)

EUA, 17. 2 horas e 16 min. Direção de F. Gary Gray. Universal. Com Vin Diesel, Dwayne Johnson, Jason Statham, Michelle Rodriguez, Tyrese Gibson, Chris "Ludacris" Bridges, Kurt Russell, Charlize Theron, Helen Mirren, Scott Eastwood, Lucas Black, Nathalie Emmanuel, Kristofer Hiviu (ambos de Game of Thrones).

Nenhum profeta seria capaz de imaginar que este mero e duvidoso filme de aventura e perseguição de carros seria capaz de sobreviver tanto tempo e com tanto sucesso, superando tragédias pessoais (a figura mais simpática do elenco Paul Walker morrendo em acidente. Aqui ele é apenas mencionado duas vezes e assim mesmo de passagem) e passando por diretores diversos, nenhum deles célebre antes por sua habilidade com a ação. E já se dando ao luxo de anunciar mais dois filmes para respectivamente 2019 e 21. O primeiro me lembro de levar um susto ao perceber a habilidade do realizador Rob Cohen (em 2001), com pretensões mais modestas. É que eu o conhecia de uma longa entrevista aqui mesmo no Brasil, quando ele até chorou relembrando a carreira irregular (era amigo de Babenco), mas também uma ambição de reconhecimento que no final das contas não chegou a ter. É mais lembrado como produtor e seus trabalhos mais recentes são imemoráveis, como diretor em Stealhat, Triplo X, A Múmia – Tumba do Imperador Dragão, A Sombra do Inimigo, O Garoto da Casa ao Lado, e ainda os filmes em realização Category 5, Speedhunters). Injustiça porque foi ele que conseguiu estabelecer como astro a figura discutível de Vin Diesel (que vocês devem lembrar tem errado muito em outros projetos). Ou seja, ressuscitou o gênero “racha”, corridas urbanas fora da lei, aproveitando nova tecnologia técnica. Hoje naturalmente elas já partiram para o delírio e a fantasia, fazendo com que o espectador desculpe qualquer efeito que deixa James Bond no chinelo.

Logo outros entraram em ação sucessiva, John Singleton (o primeiro negro a ser indicado ao Oscar e no caso por Os Donos da Rua/Boyz n the Hood), o mais fraco Desafio em Tóquio de Justin Lin (na verdade o ponto baixo da série), mas o mesmo diretor Lin se redimiu bastante com o filme 4. Em 2011, teve o irregular e esquisito Operação Rio (rodado em grande parte em Porto Rico, Atlanta, California, Arizona!),também de Lin. E o reforço muito bem vindo de Dwayne Johnson, que hoje parece ter se tornado inimigo fidagal de Diesel, nem aparecem juntos em entrevistas.

Sem esquecer também da descoberta da atual Mulher Maravilha, Gal Gadot – e de que já havia no elenco a presença de uma brasileira por parte de mãe, Jordana Brewster, que fazia a mulher de Paul e por isso ficou fora da família! Lin continuou no 6 - depois passaria para projetos pessoais, inclusive Star Trek sem Fronteiras.

O próximo seguidor tem um nome parecido e por isso pode criar confusão James Wan (fez vários (6) Jogos Mortais, o sucesso Annabelle, Sobrenatural) e em breve Aquaman. Fez também o favor de salvar a franquia, mas acharam um sucessor interessante, outro diretor negro que na verdade já faz tempo deveria ter sido consagrado. É o caso de F. Gary Gray, que trabalhou muito com vídeo e musical. Eu já o admirava desde quando vi em Berlim a aventura Até as Últimas Consequências (Set If off, 96, onde também percebi pela primeira vez Queen Latifah). Mas ele tinha feito muita coisa, por exemplo a série local Sexta feira em Apuros, A Negociação com Samuel L. Jackson e Kevin Spacey, O Vingador com Vin Diesel (não seu melhor momento), Uma saída de Mestre (03) com Charlize Theron que está aqui e Mark Wahlberg, seguido por fase ruim (Be Cool, com Travolta, Uma Thurman), Código de Conduta com Jamie Fox e finalmente um enorme sucesso nos EUA, mas pouco assistido aqui, que foi Straight Outta Compton: A História de N.W.A. (15), que acabou sendo sua redenção. Se parece informação demais, não se esqueça que a franquia está longe de ser uma obra de arte, é uma fantasia delirante um gênero muito difícil de funcionar por tanto tempo. Fazendo agora um esforço para situar a ação em Nova York, com menos cenas de ação.

A sempre linda Charlize Theron (Mad Max) é a grande vilã já que o veterano Kurt Russell esteve também no filme anterior (como o Sr. Ninguém) só que com pouco a fazer. Ela que já foi bandidão de Branca de Neve e coisas semelhantes, segundo o Hollywood Reporter, não encontrou o tom certo para deixar o personagem e sua participação bem mais divertida. Seria uma supervilã, uma “hacker”genial conhecida como Cipher que aparece no meio da lua de mel cubana com Letty (Michelle) com Dominic Toretto (Diesel). Basta ela lhe dar um fone misterioso para ele mudar completamente de atitude. De qualquer forma, a primeira sequência forte passa-se em Cuba em que Dom participa de uma corrida de calhambeques de um parente, que funciona em reservo.

O mais curioso é que os críticos americanos mais atentos estão fazendo recordar o autoplágio, que o roteiro de Chris Morgan usa justamente um recurso igual ao que já apresentou há dois filmes atrás (quando Letty voltou dos mortos com amnésia, chegando a atirar em Dom etc. e tal). Mas talvez a coisa mais curiosa para o fã seja a disputa entre os dois exóticos astros, no filme 7, Johnson passou grande parte da trama machucado num hospital. Aqui ao menos lidera o grupo com Letty a salvar Dom.

Alguns fãs da série podem achar que este capitulo não tem “stunts” do mesmo padrão do filme anterior (de arranha-céu para arranha-céu!). E algumas delas não fazem sentido (Hobbs foge da prisão, ao lado inimigo Deckard Shaw, Statham). O que não impede que um órgão tão importante da imprensa americana, o Variety (que já foi o máximo, hoje já decadente), o considere o mais espetacular da série. E a média do Rotten Tomatoes foi muito alta (inicialmente 79% positivo). A desculpa pode ser o fato de que o filme aproveite elementos das mais diversas e variadas fontes, de ação, cenas de violência moderadas mas alucinantes, e até uma explosão grande na Islândia passando pela Rússia! Um detalhe: Helen Mirren faz uma encantadora ponta (não vou dizer como...).

 

Ainda Velozes & Ferozes

Por Adilson de Carvalho Santos

Impressionante como há dezesseis anos o público continua acelerando com a franquia “Velozes & Furiosos”, uma das mais rentáveis para a indústria do cinema, sobrevivendo a idas e vindas do elenco, tramas recicláveis, ainda que divertidas, e mesmo à morte de Paul Walker, um dos protagonistas. Curioso que todo esse sucesso de bilheteria tenha vindo de forma despretensiosa. Quando o primeiro filme foi feito em 2001, dirigido por Rob Cohen, tanto Vin Diesel quanto Paul Walker eram desconhecidos. Diesel tinha tido uma ponta em “O Resgate do Soldado Ryan” (Saving Private Ryan), de 1998, e protagonizou “Eclipse Mortal” (Pitch Black) em 2000. Já Paul Walker vinha de papéis na Tv e alguns menores no cinema como em “A Vida em Preto & Branco” (Pleasantville) de 1998. O orçamento estimado em torno de US$ 38 milhões gerou um lucro maior que o triplo só no mercado interno norte-americano. Diesel & Walker ganharam o prêmio de melhor dupla no MTV Awards daquele ano, mostrando o quanto a geração videoclip aprovou o clima do filme com seus motores envenenados, cores berrantes e  roteiro raso. As cenas de ação empolgaram com mais de 1.500 veículos na cena da corrida que teve a adesão de pilotos reais. Desde então, não dava para se levar a sério o plot de um agente infiltrado na gangue de durões de Dominic Toretto, ao som do hip hop. Sem nenhuma preocupação com os diálogos, o filme é conduzido para a ação inebriante dos rachas, tão insano quanto o segundo episódio do desenho do “Pica Pau” (The Screwdriver), de 1941.

 Em 2003, o diretor John Singleton foi contratado para uma sequência e “+ Velozes + Furiosos” (2 Fast 2 Furious) sem Diesel mas com Paul Walker reprisando seu papel de Brian O’Conner. A Universal chegou a ter dois roteiros diferentes para o filme, sendo um destes com o personagem de Toretto caso Vin Diesel retornasse. Apesar da bilheteria ter sido regular, o filme chegou a ser indicado para o Framboesa de Ouro. O diretor tailandês Justin Lin (o mesmo que dirigiu o último Star Trek) injetou sangue novo diante das recusas de Diesel e Walker para retornarem em “Velozes & Furiosos: Desafio em Toquio” (The Fast & The Furious: Tokyo Drift) de 2006. Apesar de uma ponta de Diesel, o plot se desenrola independente dos eventos dos primeiros filmes e investe em uma ação inócua que mesmo a mudança de ares não ajuda. Apesar de ter seus admiradores, esse terceiro filme perde de longe para qualquer episódio do clássico anime “Speed Racer”.

 A partir de 2009, no quarto filme “Velozes & Furiosos 4” (Fast & Furious), a dinâmica do filme muda o tom fazendo dos modernos robin hoods uma grande família, com o acréscimo da personagem Gisele, estreia da atriz Gal Gadot, a Mulher Maravilha do vindouro filme. Outra mudança é o que o personagem Brian O’Conner retoma sua vida no FBI no começo do filme, só para no final se juntar à família de Toretto, assumindo uma vida ao lado de Mia (Jordana Brewster). A bilheteria milionária aponta novas sequências, e os salários de Diesel e Walker os torna estrelas dos blockbusters hollywoodianos. Mas, com a morte da personagem Letty (Michelle Rodriguez) e com o personagem de Walker definitivamente do lado dos foras-da-lei, seria necessário reabastecer para seguir adiante. Assim o reforço chegou com a adesão do popular Dwayne Johnson como o agente do F.B.I Luke Hobbs, novo perseguidor do grupo. De acordo com Vin Diesel, o papel foi pensado para Tommy Lee Jones, mas uma fã chamada Jan Kelly teria sugerido o nome de Johnson. O filme em questão “Velozes & Furiosos 5: Operação Rio” (Fast Five) trouxe as filmagens para o Brasil com locações no Morro Dona Morta e Copacabana. Contudo, as filmagens acabaram se desenrolando em Porto Rico para baratear os custos, o que eliminou uma sequência inicialmente prevista de perseguição na Ponte Rio Niteroi. Se desde o início, as peripécias sobre rodas já eram irreais, a partir daqui elas passam a dar inveja nas proezas mais mentirosas de um filme de 007. Carros voam, cofres são arrastados pelas ruas entre outras inverossimilhanças, faltando só os carros falarem como no seriado “A Super Máquina”. Com aprovação de 78% do Rotten Tomatoes, seria lógico prever que a franquia aceleraria em velocidade turbo, com Diesel passando ao cargo de produtor executivo dos filmes, e resgatando a personagem Letty (Michelle Rodrigues) em “Velozes & Furiosos 6” (Fast & Furious 6) de 2010, também dirigido por Justin Lin. Agora o personagem de Hobbs faz um pacto de mutua ajuda com a família de Toretto para enfrentarem o vilão Owen Shawn, interpretado por Luke Evan, o Gaston do recente “A Bela & A Fera” (Beauty & The Beast).

Com a bilheteria milionária no mundo e diversidade de merchandising levando o filme para o universo dos games, nada mais natural que a Universal quisesse um sétimo filme, que apesar de ter tido seu lançamento atrasado devido á trágica morte de Paul Walker teve desempenho satisfatório nas bilheterias. “Velozes & Furiosos 7” (Fast & Furious 7) teve a direção de James Wan (de “Invocação do Mal” e do vindouro “Aquaman”) e o vingativo vilão Deckard Shawn, na pele de Jason Statham, inglês astro dos filmes de ação. O elenco ainda teve o acréscimo de Kurt Russell e da ex campeã de MMA Ronda Rousey. O resultado foi uma recepção bem favorável do público e de sites como o Metacritic e o Rotten Tomatoes, celebrando esse show de testosterona temperado com humor para suavizar a despedida de Paul Walker realizada com auxílio de seus irmãos e truques digitais.

 A chegada do oitavo filme não causou surpresa e Diesel promete ainda mais dois filmes, o que seguindo a formula de sucesso da franquia, não é difícil acreditar que ainda não é hora de frear.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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