A Linguagem com Febre de Marcia Tiburi
Marcia Tiburi é gaúcha de Vacaria. Mas este rincão pouco se liga com sua literatura e sua persona midiática
Marcia Tiburi é gaúcha de Vacaria. Mas este rincão pouco se liga com sua literatura e sua persona midiática. O manto; ornitoromance das Berenices (2009) é uma teia complexa e difusa em que a linguagem e a própria construção narrativa parecem estar sempre com febre, prontas para desmaiarem no abismo. O leitor pode pensar um pouco em gente com o argentino Júlio Cortázar ou a inglesa Virginia Woolf; mas sabe que não se trata bem disto, trata-se dum veio particular do escrever de Marcia, duma ficção que move alguns tentáculos gigantescos que o observador, a duras penas, terá de dominar, para bem desfrutar.
Há um longo prólogo (que é parte da invenção que é o livro) em que uma narradora fala de sua busca por nove fitas gravadas que terá de converter em palavras escritas para edificar o livro sobre sua mãe; o prólogo divaga, navega na “neblina desta história”, deixa-se levar por algo como “o féretro das coisas me persegue”. Nas outras duas partes do romance-tessitura (“Livro da claridade ou livro da trama”, “Livro da noite ou livro da urdidura”) estamos diretamente diante das frases (gravadas) da protagonista, a mãe da primeira narradora.
Com referências culturais, literárias e até cinematográficas (“na fotografia, como no filme de Antonioni, há um vivo, por isso mesmo deve também haver um morto”), O manto estabelece uma clara divisão de leitores: haverá os que o detestam por sua complicada ramificação, navegante de metáforas que perturbam, e haverá os que se deixam levar loucamente por seu fascínio de pensar em palavras, que é no fundo o que propõe o texto desta escritora cuja formação filosófica vai dispondo pedras atrás de pedras.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br