Elementos Histricos na Linguagem Cinematogrfica de Back
A cultura histrica do catarinense Sylvio Back o elemento crucial de sua linguagem cinematogrfica. Seu mais recente filme, O Contestado, Restos Mortais (2011), aprofunda esta relao (tensa e intensa) entre histria e cinema no universo esttico de Back.
A cultura histórica do catarinense Sylvio Back é o elemento crucial de sua linguagem cinematográfica. Seu mais recente filme, O Contestado, restos mortais (2011), que revisa documentalmente um tema que ele já abordara num antigo trabalho de ficção, A guerra dos pelados (1970), aprofunda esta relação (tensa e intensa) entre história e cinema no universo estético de Back.
Num dos filmes onde aparentemente a história não seria central, o semidocumentário Cruz e Sousa, o poeta do desterro (1998), tratando da vida e das polêmicas do poeta Cruz e Sousa e inserindo a dicção de versos do cinebiografado, Back revela em cada plano que ele sempre foi um documentarista historiador, coisas que estão na base de sua realização mais famosa, o ficcional e perturbador Aleluia Grechten (1976). Perturbação é o que não falta em O Contestado; a inquietação de linguagem de Back é constante, buscando uma variedade de angulações e habilidades de montagem e fotografia (o fotógrafo é o veterano Antônio Luiz Mendes) para retirar o documentário da inércia formal em que o gênero, televisivamente, muitas vezes submerge. E para cumular as perturbações, Back inclui algumas intersticiais sequências midiúnicas, onde alguns médiuns, sem conhecer o episódio do Contestado, fazem baixar espíritos de obscuros participantes deste movimento messiânico que, seguindo-se a Canudos (no Nordeste) no começo do século XX, deu-se no sul do Brasil. Back filma estas sessões como um documentarista, ainda que estas encenações espíritas (teatrais, doloridas...) possam transmitir sua vivacidade emocional ao rigor documental.
Sylvio Back escreveu versos em O caderno erótico de Sylvio Back (1986), e por estas coisas pode melhor compreender os processos estruturais da personagem central de Cruz e Sousa. Back, em O Contestado, é tanto as bocas mal expressas daqueles imigrantes populares que se esforçam por capturar o passado sangrento de seus ancestrais quanto as articulações mais geométricas dos historiadores e jornalistas que depõem para os inusitados ângulos da câmara.
Pode-se dizer, finalmente, que o historiador que analisa, o povo que reconta, o médium que traz os mortos do além são os elementos históricos (citados na abertura deste artigo) e talvez para-históricos da composição da linguagem cinematográfica de O Contestado.
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a dcada de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicaes de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br