Classico Revisitado: Os 80 Anos de "Que Espere o Ceu"
O sucesso de Soul - Uma Aventura com Alma, da Pixar, traz de volta o clima de um classico hoje esquecido pelo publico em geral, Que Espere o Ceu
O sucesso de “Soul – Uma Aventura com Alma” da Pixar, recentemente lançado na Disney +, traz de volta o clima de um clássico hoje esquecido pelo público em geral. “Que Espere o céu”, clássico dos estúdios Columbia lançado há 80 anos, é uma divertida fábula sobre a vida após a morte realizado poucos meses antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra, quando o público procurava um escapismo inocente que trouxesse alívio das notícias de guerra vindas da Europa.
Dirigido por Alexander Hall (1847-1968), o filme trazia a história do pugilista Joe Pendleton vivido por Robert Montgomery (1904-1981), que assim como o músico Joe Gardner da animação da Pixar, morre antes de seu tempo e recebe uma segunda chance dos céus. Pendleton reencarna no corpo do moribundo Bruce Farnsworth, um milionário assassinado por sua esposa Julia (Rita Johnson / 1913-1965) e seu amante Tony Abbot (John Emery / 1905-1964). A princípio relutante em seu novo corpo, Joe muda de ideia ao se apaixonar à primeira vista pela jovem Bette Logan (Evelyn Keyes / 1918-2008) cujo pai foi prejudicado nos negócios por Farnsworth. Decidido a reparar os erros deste, Joe se envolve em várias questões enquanto convence seu ex-treinador Max Corkle (James Gleason / 1882-1959) a conseguir-lhe uma nova oportunidade. Assistindo a tudo diretamente de cima estão os anjos 7013 (Edward Everett Horton / 1886-1970) e o Sr. Jordan (Claude Rains / 1889-1967), administrador celeste.
A história adaptada da peça de Harry Segall (1892-1975) quase não chegou a ser filmada já que Harry Cohn (1891-1958), o chefão da Columbia estava pouco ou nada interessado preferindo explorar sua maior estrela, Rita Hayworth (1918-1987), mas o roteirista Sidney Buchman (1912-1975) convenceu Cohn, segundo reza a lenda dizendo que “ele sabia mais do que o público queria ver do que os investidores de Wall Street”. Buchman tinha razão uma vez que na cerimônia do Oscar do ano seguinte “Que Espere o Céu” foi indicado a sete prêmios da Academia, vencendo justamente os de melhor história e melhor roteiro adaptado. O sucesso do filme de Alexander Hall abriu caminho para o interesse dos estúdios por histórias sobre o além vida e personagens celestiais como “Dois no Céu” (1943), “A Felicidade não se compra” (1946) e “Quando os Deuses Amam” (1947), este também dirigido por Hall, estrelado por Rita Hayworth e reaproveitando os personagens do anjo 7013 (Edward Everett Horton) e Mr. Jordan sendo que Claude Rains foi substituído por Roland Culver (1900-1984).
A história foi refilmada duas vezes. Em 1978 rebatizada de “O Céu Pode Esperar “ (Heaven Can Wait), título original da peça de Segall, estrelada por Warren Beatty, Julie Christie, Dyan Cannon, Charles Grodin, Jack Warden e James Mason no papel de Mr. Jordan. Beatty, que também produziu e co-dirigiu o filme, teria insistido para que Cary Grant (1904-1986) assumisse o papel de Mr.Jordan, mas este se recusou a deixar a aposentadoria. As duas versões guardam uma coincidência e fato raro na história da Academia. Tanto James Gleason quanto Jack Warden foram indicados para o Oscar de melhor ator coadjuvante, pelo mesmo papel, mas nenhum dos dois levou a estatueta. A versão que Beatty dirigiu junto com Buck Henry transforma Joe Pendleton em jogador de futebol americano e trouxe para o roteiro discussões ambientais e críticas para o capitalismo predatório sem perder, no entanto, a essência da peça de Segall.
Em 2001, Chris Rock não teve a mesma sorte quando refilmou a mesma história rebatizando o protagonista como Lance Barton, e fazendo dele um aspirante a comediante que recebe uma segunda chance na vida terrena entrando no corpo de um homem branco. Todos os personagens foram renomeados, incluindo os anjos 7013 e Mr.Jordan ficando com Eugene Levy e Chazz Palminteri, ambos repaginados para um humor menos sutil que os das versões anteriores. O resultado foi uma bilheteria baixa.
Ainda assim, a temática comédia celestial continuou gerando novas produções ao longo das décadas como “Além da Eternidade” (1989) – refilmagem de “Dois no Céu”, “Um Visto Para o Céu” (1991) ou com histórias de teor mais dramático como “Ghost- Do Outro Lado da Vida” (1990).
É uma pena que o filme de Alexander Hall esteja há muito tempo relegado ao limbo, sem , possível encontra-lo na íntegra no “YouTube”, uma oportunidade para conhecer esse clássico maravilhoso que fala de segundas chances, de perdão celestial e reencarnação com uma linguagem simples e bem humorada, há 80 anos e ainda esperando para ser redescoberto, pois filmes como esse não podem esperar.
Veja matéria no Youtube: https://youtu.be/nm7ni-WOa-c
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com