Classico Revisitado: Tubarao - 45 Anos

Tubarao ainda e um filme que impressiona, quase meio seculo depois de ter transformado as bilheterias hollywoodianas

22/06/2020 14:13 Por Adilson de Carvalho Santos
Classico Revisitado: Tubarao - 45 Anos

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Foi recentemente divulgado a prévia do lançamento de “Deep Blue Sea 3”, nova sequência do longa original de 1999, que será distribuído por VOD em 28 de julho próximo. Isso me faz ver o quanto o público ainda se interessa por filmes sobre tubarões, e no momento em que celebramos os 45 anos de lançamento do melhor filme do tema, dirigido por um então desconhecido Steven Spielberg. Você lembra daquelas duas notas musicais? da câmera onipresente? e de três homens de personalidade distinta caçando um monstro que fez uma geração inteira temer a água ? “Tubarão” ainda é um filme que impressiona, quase meio século depois de ter transformado as bilheterias hollywoodianas e de ter praticamente criado o conceito de blockbuster.

Adaptado do livro de Peter Benchley, ex repórter do Washington Post, seguindo a cartilha hithcockiana de sugerir mais do que mostra, Spielberg conseguiu disfarçar as limitações de orçamento, e as dificuldades técnicas que se formaram quando gravaram em alto mar, na costa nordeste dos Estados Unidos próximos a Martha’s Vineyard, ilha que serve de paraíso turístico; e que se tornou a fictícia Amity Island, local em que se passa a história de Benchley. O antagonismo entre o trio Brody-Quint-Hopper e o imenso turbarão branco evocava a luta Melvilliana do clássico “Moby Dick”, mas o efeito foi além quando, aos quase 81 minutos de projeção, o grande vilão surge e vem a clássica frase “Você vai precisar de um barco maior”, eleita a 35º mais memorável da história do cinema pelo AFI (American Film Institute).

O superlativo na bilheteria e no impacto cultural do filme é comparado a todos os obstáculos para sua realização. Horas e horas de filmagem eram desperdiçadas nas filmagens em mar aberto, algo inédito em termos da busca do realismo máximo que se pudesse alcançar em meio às ondas e correntes marítimas que interferiam no cronograma de filmagens, em uma era pré-digital. Tudo era físico, mecânico, e muitas vezes não funcionava como esperado na hora em que surgia Bruce, o nome do tubarão mecânico usado (eram 3 modelos em cena). A bilheteria milionária alcançada compensou o desgaste da equipe com mais de US$ 460 milhões em arrecadação internacional, além de 3 Oscars (melhor montagem, trilha sonora e efeitos especiais). Era um momento em que os chamados multiplex se espalhavam pelo país, muitos instalados em shoppings e atraindo um público jovem que até então não era o público alvo dos grandes estúdios. O filme de Spielberg mudou essa mentalidade em pleno verão, período que até então não era considerado atraente para os grandes lançamentos. A campanha de marketing, lembrando que se tratava de uma era pré-internet, usou as 3 emissoras do país (ABC, NBC e CBS) com 3 noites consecutivas de trailers.

Na hora do casting, Robert Duvall (O Poderoso Chefão) foi pensado para o papel de Martin Brody, que ficou com Roy Scheider (1932-2008) mas ele estava interessado em interpretar Quint. O papel do caçador de tubarões que evocava a figura amargurada de Ahab, foi desde o início pensado para Robert Shaw (1927-1978), que já havia trabalhado com os produtores Richard Zanuck e David Brown em “Golpe de Mestre”. Já Hopper foi recusado por Jon Voight, pensado para Timothy Buttoms e Jeff Bridges, antes de ficar com Richard Dreyfuss (American Grafiith). Este achava o papel chato e são notórias as histórias de desentendimento entre as personalidades conflitantes entre os intérpretes de Quint e Hopper. Conflitos também houveram entre o diretor, então com 27 anos, e o autor Peter Benchley quando este visitou o set de filmagens e não aprovou as mudanças costumeiras entre livro e filme.

No caso de “Tubarão”, por exemplo, o personagem de Hopper (Dreyfuss) no filme é mais simpático e brincalhão, diferente do livro em que o personagem é o oposto e ainda mantem um caso com Ellen (Lorraine Gary), a esposa de Martin Brody. O caso extra conjugal foi eliminado do roteiro do filme, assim como o rivalidade entre os dois substituída por uma parceria na perseguição ao devorador de homens. A morte de Quint (Shaw) no filme também é diferente, mais violenta, devorado pelo tubarão. No livro Quint morre afogado ao tentar matar o animal com arpões, tal qual Ahab com Moby Dick. Foi de Spielberg a ideia de que Quint teria estado a bordo do navio que levou a bomba atômica para o Japão. É Hopper que é devorado vivo pelo tubarão no livro, enquanto no filme ele sobrevive se escondendo no fundo do mar enquanto o animal fica temporariamente preso na gaiola. Já a morte do vilão é causada por um dos arpões que Quint consegue atirar no animal, enquanto no filme Brody heroicamente o explode atirando no tanque de oxigênio preso na boca da criatura.

Foram 3 continuações, e dúzias de imitadores, mas nenhum com o impacto gerado pelo filme de 1975. Até hoje, confesso, não consigo entrar na água sem que aquele “dum...dum..dum..dum...” venha a minha mente. Culpa de John Williams e do Sr. Spielberg, com efeito ainda hoje 45 anos depois.

 

P.S: Os 4 filmes da franquia “Tubarão” estão disponibilizados na Netflix.

Assista ao canal “Adilson Cinema” no YouTube.

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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