Lirismo e Realismo: A Arte de Amos Oz

Meu Michel eh por varios motivos um romance extraordinario

19/01/2023 17:52 Por Eron Duarte Fagundes
Lirismo e Realismo: A Arte de Amos Oz

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Ao ler Meu Michel (1987), este belo romance do israelense Amós Oz, pensei numa das características do escritor brasileiro Carlos Heitor Cony, certamente muito diferente de Oz em sua estrutura narrativa e no clima mais interiorizado e menos aberto de suas tramas. O que aproxima estes dois artistas da palavra tão diversos? É uma aproximação muito peculiar de lirismo e realismo: alguns parágrafos arrolam gestos comuns, tão triviais que poderiam parecer dispensáveis por não avançar, aparentemente, o trem narrativo emocional; de repente, o narrador salta no terreno da mais completa metafísica e das metáforas, produzindo um estranho e pessoal lirismo. Outro judeu, o tcheco Franz Kafka, tornava mais complicados estes liames: sua profundidade metafísica vinha mesmo da exacerbação das frases cotidianas. O gaúcho Moacyr Scliar também navegou, à sua maneira, nesta zona de um realismo literário judaico que parece às vezes uma coisa ancestral desta etnia.

Meu Michel é por vários motivos um romance extraordinário. Dando voz narrativa a uma mulher, protagonista e narradora, que relata cruamente suas experiências familiares, seus amores e desilusões, Oz mergulha em seu universo de palavras para retratar a realidade tensa de Israel. Ao esboçar ao mesmo tempo o retrato de personagens e o retrato de um país, Oz nos seduz pela intensidade de seu gesto literário.

“Jerusalém, janeiro de 1960

Escrevo porque as pessoas que amei já morreram. Escrevo porque quando era menina havia em mim muita força para amar, e agora esta força está morrendo. Eu não quero morrer.”

Profissão de fé na literatura. Profissão de fé na vida. As letras têm sua função bem simples: fazer-nos sobreviver à nossa morte física. Escrever é uma de nossas peças de resistência à finitude. Com beleza, com sensibilidade, Oz recaptura o tempo nos movimentos de suas personagens ao transformar esses movimentos em texto; o texto é tempo, e este tempo (aspecto formal da narrativa) é criação pessoal em Meu Michel.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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