Um Obscuro e Caracteristico Person

A visao de Cassy Jones, o Magnifico Sedutor encontra Luis Sergio Person, que fora um intelectual critico em Sao Paulo S.A., de bra?os dados com o cinema que se podia fazer no Brasil naqueles anos de chumbo

23/01/2025 02:43 Por Eron Duarte Fagundes
Um Obscuro e Caracteristico Person

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O cineasta brasileiro Luís Sérgio Person morreu cedo, em janeiro de 1976, num acidente automobilístico, aos 39 anos. Cassy Jones, o magnífico sedutor (1972) foi seu último filme.  Person passou à história como o diretor de um dos marcos do cinema brasileiro, São Paulo S.A. (1964), sombrio e sisudo relato das relações da nossa classe média com a nascente industrial da sociedade por aqui. Sabe-se que Person se tornara fascinado com o cinema mais descompromissado e demencial de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Se tivesse sobrevivido aos anos, talvez a filmografia de Person desse uma guinada surpreendente, saindo da sisudez inicial para uma faceirice de filmar quase alienante. A visão de Cassy Jones, o magnífico sedutor encontra Person, que fora um intelectual crítico em São Paulo S.A., de braços dados com o cinema que se podia fazer no Brasil naqueles anos de chumbo: a malícia narrativa, que se estabelece na verdade formalmente a partir de fragmentos de seus assuntos em regra eróticos e cronísticos, era uma tentativa de mimetizar a pornochanchada, que se erigia na própria indústria do cinema brasileiro naquele tempo, a década de 70; e, à sombra da pornografia vigente, mimetizava gêneros americanos, como o faroeste, aqui urbano e carioca, seguindo pelas imagens heróis improváveis e dramas românticos telenovelescos, simulando as atmosferas dos teatros de revista (como os musicais de Carlos Imperial, que chega a aparecer no filme com um destes espetáculos, codinome colonizado num cartaz como Charles Imperial).

Sem ser um filme capaz de angariar um posto na história do cinema, Cassy Jones, o magnífico sedutor permite ao observador conjecturar sobre os caminhos que um diretor como Person estaria naquele momento pensando como o futuro para seu cinema. Onde daria isto tudo? E a visão recente de um outro filme próximo, Os homens que eu tive (1973), de Tereza Trautman, faz o espectador identificar, em duas obras e dois diretores tão distantes em tudo, uma sombra comum dos anos 70: o clima narrativo majoritário de então, ditado pelas muitas pornochanchadas que invadiam nossas telas.

Paulo José, no papel central, segue a linha do galã mulherengo estabelecido em Todas as mulheres do mundo (1966), de Domingos de Oliveira. Graças a seu grande talento, Paulo dá uma profundidade inesperada a uma personagem originalmente rasa. E as aparições duma Sandra Bréa em todo o frescor e autenticidade de seus inícios, como uma bailarina sensual e hormonal, é outro achado histórico.

O lado genial de Paulo se estabelece em duas sequências em que ele simula os maneirismos corporais afeminados. Uma delas quando ele interpreta um juiz de futebol gay, gestos rasgados, exagerados. Outra em que ele é um bailarino infiltrado, disfarçado de homossexual, para se aproximar da mulher objeto de seu desejo, a criatura vivida por Sandra Bréa.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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